A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

04 agosto, 2012

Rain Man (Carlos)


Um filme excelente, onde Dustin Hoffman fez uma atuação brilhante, provavelmente uma das melhores. Dustin interpreta Raymond Babbitt, um autista que muda a vida de Charlie Babbitt, e se falamos de autismo não tem como não falar de preconceitos. O autista tem um sério problema de comunicação e socialização, e isso faz com que os autistas sejam discriminados e isolados. Por causa dessa característica surge uma dúvida se eles podem ou não viver na sociedade, e essa se torna uma questão no filme. 
Após a morte do pai, Charlie Babbitt vai atras de descobrir quem herdou a fortuna, e então descobre que tem um irmão, Raymond. Charlie resolve se aproveitar da deficiência do irmão para recuperar sua parte na herança, e numa viagem de 6 dias pelo país ele começa a descobrir que a vida é mais do que dinheiro. Ao começar a conviver com seu irmão, descobre algumas coisas do seu passado, principalmente que Raymond é o seu amigo "imaginário" da infância que era chamado de Rain Man e, principalmente, descobre que Rain foi internado pela família por medo dele machucar o bebê Charlie. Isso começa a mudar a visão de Charlie sobre família e amor. 
Charlie também descobre que Rain, apesar do seu autismo, tem uma capacidade de memorização e contagem além do normal, e isso desmitifica a ideia de muitas pessoas que autismo é sinônimo de demência, e creio que até Charlie tinha essa ideia.
O filme trata de uma forma muito delicada e inteligente esse tema. Nós evoluímos junto com Charlie. O ponto alto do filme talvez seja o momento que Charlie resolve levar Rain para Las Vegas e ganha muito dinheiro no cassino com a grande capacidade de Rain de contar cartas. Falando dessa forma até parece que Charlie se aproveitou da capacidade de Rain para ganhar dinheiro, claro que isso não deixa de ser verdade. Mas o que destaco nesse momento é a hora que Charlie ensina Rain a dançar.Percebemos ali o olhar orgulhoso de Charlie, não pelo fato de Rain ter conseguido muito dinheiro para ele, e sim de orgulho pelo irmão que tinha: um autista mas que conseguiu ensinar a ele o grande valor do amor. Engraçado é que, exatamente um autista, que não expressa nenhum sentimento e tem dificuldade de se socializa,. como isso é possível? O filme explica isso de uma forma tranquila, sem apelar para o sentimentalismo. 
Essa transformação de Charlie é comprovada quando percebemos no fim a luta pela custodia de Rain, mas não pelo dinheiro e sim pelo fato de ter um irmão, e vemos uma reunião com o medico que irá dar o parecer para isso. Mas o que vemos nesse momento é o preconceito falar mais alto, e na conclusão mostra-se que um autista é incapaz de viver em sociedade.
Mas será que é esse o veredicto mesmo? O que vimos nesses dias que Rain passou com seu irmão foi exatamente o contrário. Ele teve novas experiencias, fez piadas, dançou, riu, beijou, viu filme, dirigiu o carro... Isso é viver em sociedade e são coisas que com certeza ele não faria dentro de um hospital, isso não quer dizer que Rain não precise de acompanhamento médico, é claro que precisa, porém ele precisa também de uma pessoa que o ame e o respeite, e foi isso que Charlie fez. 
Barry Levinson acertou na escolha dos atores, acertou no tema, acertou na delicadeza de tratar o tema e fez um filme espetacular. Não foi a toa que ganhou o oscar de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original e melhor ator.