A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

26 fevereiro, 2012

Gênio indomável (Carlos)

Dessa vez não vou falar de Robin Williams apesar de mais uma vez ele ter feito um papel brilhante. Porém Matt Damon merece todas as considerações: um ator jovem pegando um papel tão complexo e conseguir dar uma vida a ele de uma forma tão real, além disso tendo que contracenar com grandes estrelas, uma missão difícil, mas que ele tirou de letra.
Will Hunting nasceu com um dom, resolvia problemas que grandes matemáticos demorariam anos, porém era um rebelde, vivia preso, tinha problemas... até ser descoberto pelo professor que tentou ajudá-lo, porém com interesses e também por inveja .eEe vivia dizendo que Sean McGuire era um fracassado por não ter um grande prêmio, porém ele era o grande fracassado, não conseguia viver quando descobriu Will, um rapaz sem estudos que conseguia ser mais inteligente que ele. Ou seja, ele sabia ser o grande poderoso na sala, mostrar para seus alunos que ninguém era capaz de ser tão inteligente que ele, até descobrir esse gênio, e no fim esse menino indomável consegue mostrar isso para ele. Nunca devemos nos achar melhor do que ninguém.
Will,depois de descoberto, recebeu várias propostas de trabalho de grandes empresas, com grandes salários, ou seja,  tudo que um pedreiro sempre sonhou. Porém para Will não. Ele ia dispensando um por um, e em um de seus dias de consulta McGuire pergunta o que ele quer fazer. Pergunta difícil essa né... muitos de nós não sabe responder, ficamos perdido entre varias profissões sem se satisfazer.
Chuckie fala com Will que qualquer um daqueles pedreiros dariam tudo para ficar no lugar dele, e ainda diz que a sua maior alegria seria o dia em que ele batesse em sua porta e ele não estaria mais em casa. Uma grande prova de amizade, pois ele sabia que seu amigo tinha uma grande oportunidade pela frente e talvez uma dessas oportunidades lhe daria a felicidade que todos queremos. Outra prova de amizade, é o presente que ele e mais dois amigos dão para Will, um carro montado por eles mesmos, afinal eles não tinham condição de comprar um carro novo, mas são nos pequenos gestos que estão as maiores provas de amizade.
Porém o que mais me chamou  a atenção nesse filme não foi a bela atuação, nem o belo roteiro, nem o fato de um jovem pobre sem estudos ter uma inteligência acima da média. O que mais chama a atenção são os diálogos entre Will e  McGuire, é uma verdadeira lição de amor. O jeito que McGuire fala de sua esposa  e do amor é de contagiar. Uma parte que guardei bem foi quando ele diz que os pequenos defeitos se tornam as maiores qualidades, para mim esse é o grande segredo de uma relação feliz, saber conviver e até rir com os defeitos do seu parceiro, ninguém é perfeito porém não é por isso que precisamos fazer dos defeitos um motivo para brigar.
Outra lição que ele deixa é quando ele conta do seu primeiro encontro com sua esposa e fala que perdeu um grande jogo para poder conhecer a mulher de sua vida e que não se arrependeu, lição essa que seu aluno aprendeu muito e foi capaz de largar um emprego milionário para correr atrás de seu amor. Afinal não podemos nos arrepender de coisas que nos deixam feliz, e para isso basta uma decisão e que um dia todos temos que tomar, é um momento difícil, porém se a decisão for a certa vamos colher frutos durante o resto da vida, por esse momento eu tive que passar e se um dia alguém me perguntar se me arrependo de alguma coisa posso dizer como McGuire... eu me arrependeria se não pudesse ter tido a chance de te conhecer, enfim se hoje sou feliz é em grande parte por sua causa.



15 fevereiro, 2012

Requiem para um sonho (Elaynne)

Que diabos de filme é esse? Nunca ouvi falar.
Esse foi meu primeiro pensamento quando você colocou este filme na lista.
Que diabos de filme é esse, e como é que eu nunca ouvi falar? Este foi meu pensamento quando terminamos de assistir o filme.
E que filme. Intenso, pertubador, intrigante, incômodo. São características que lhe caem muito bem. A maneira como foi filmado, com um trabalho de edição bem mais exigente, que dá ao filme um ritmo acelerado, eletrizante, alucinado, encaixou muito bem com o tema do filme.
Drogas. É este o tema do filme. A vida sob o efeito de drogas. Drogas, aqui, não são apenas entorpecentes, mas qualquer tipo de objeto, coisa, pensamento, que nos transporte da realidade para um mundo paralelo, que assuma em nossa vida uma importância maior que as pessoas que estão a nossa volta e a quem nós amamos, ou ainda que assuma uma importância maior que nossa própria vida, é uma droga. Em todos os sentidos pejorativos que esta palavra possa ter.
É claro que ele fala sobre drogas, drogas mesmo. E explora muito bem a vida de um viciado, do auge à decadência. Mas o filme vai além. Explora os desejos dos viciados. Antes de se tornarem meros drogados, viciados em drogas são seres humanos. E como todos, possuem projetos de vida, traçam metas, planejam o futuro. Como cada um de nós, eles também têm sonhos. A sociedade os marginaliza, os abandona, os criminaliza, mas esquece de procurar os motivos que os levaram a essa vida, o que eles buscavam, quais eram seus sonhos. Harry tinha sonhos. Marion também. E quem se importou? Eles foram usados para traficar, para dar prazer. Quem manda no jogo dita as regras. E se ninguém da sociedade interfere neste jogo, os seus personagens com menor importância se submetem a tudo, acreditando que com o tempo vão ter sucesso, serão os senhores do jogo também.
A sociedade se considera melhor que eles. Mas e nossos vícios particulares? E aquilo que temos e não conseguimos nos libertar? Aquele chocolate, um bom refrigerante, uma bebida, a televisão, jogos, o trabalho, um sono sem fim, o medo, a ansiedade, as preocupações, a vaidade. Quantos vícios temos, que nos prendem, nos dominam, e nós não admitimos. Acreditamos estar no controle da situação. Não somos tão diferentes dos viciados em drogas, somos?
Estes vícios também foram explorados no filme, de maneira brilhante. Quantas Sarahs conhecemos por aí, que não podem passar um dia sem assistir determinado programa de televisão? Ou ainda, quantas pessoas estão ao nosso redor e buscam meios fáceis de perder peso, pela pressão da mídia. E como bem mostrou o filme, isso vira uma bola de neve. Remédios para emagrecer tiram o sono, e te levam a tomar remédios para dormir, e com o tempo perdem o efeito, e você passa a querer mais, e o mais já não é suficiente. Coisa de filme? Não. Realidade.
Claro que quem vive nesta situação dificilmente admite que precisa de ajuda. A sensação de estar no controle só vai embora quando a razão também vai embora. Alucinações, tensões, medos passam a fazer parte do dia a dia. E é tudo junto, de uma só vez, e num ritmo frenético, da forma como é retratado no filme.
Cada um tem dentro de si uma droga, um vício. Cabe a nós decidir alimentar este vício ou deixá-lo adormecido. Nossos sonhos chegarão a se tornar realidade um dia? O que será dito sobre nós ao fim de nossa vida?



02 fevereiro, 2012

Sociedade dos poetas mortos (Carlos)

Começar falando de Robin Williams pode até ser considerado um clichê, afinal todo papel que ele faz é um sucesso e, com Jonh Keating, não poderia ter sido diferente. Um professor de literatura com uma tarefa muito dificil, talvez até impossível... Espalhar esperança e sonho num mundo totalmente conservador. Mas afinal o que é sonho? De acordo com o dicionario Aurélio, sonho é “a associação de imagens, frequentemente desconexas ou confusas que se formam no espirito da pessoa enquanto dorme. Fig. Ilusão, fantasia, desvaneio, utopia.” Com um significado desses, diria que sonho é algo impossivel e irreal... Por isso prefiro ficar com o conceito dos poetas, são eles que entendem a alma humana e Clarice Lispector fala dessa forma: “Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.". Ou seja, Carpe Diem.
Procurei buscar esses dois significados para poder comparar como é viver num mundo conservador e num mundo libertador. Sociedade dos Poetas Mortos dá muita enfase à poesia, que hoje em dia ou já foi esquecida ou estão relatadas em alguns livros de literatura para serem decoradas e não vividas. A poesia tem o poder de mexer com com as pessoas, todo mundo é capaz de escrever um belo poema. É só fechar os olhos e sonhar, assim como fez Keating com o Todd Anderson, que sempre teve medo de falar em público.
E foi Keating, com seu jeito diferente de dar aulas, que ensinou àqueles jovens a lição mais importante da vida deles: carpe diem, ou seja aproveite o dia, ou melhor, viva seu sonho hoje. Um choque talvez para aqueles garotos que estavam acostumados a serem fantoches ou robôs programados para viver a vida dos pais e dos diretores que provavelmente não viveram seus sonhos.
O cenário escolhido não poderia ter sido melhor: uma escola interna exclusiva para homens e que tinha como lema “Tradição, honra, disciplina e excelência”, para que ambiente mais ditador e conservador que esse? Nessa escola os meninos viviam para poder ir a uma boa universidade, assim poderiam garantir seu futuro e seriam grandes médicos, engenheiros, advogados... Mas será mesmo? Até que para uma grande universidade eles iriam e chegariam muito longe, mas na escola da vida eles não sairiam do primário...
Esse foi o cenário escolhido, mas a nossa vida também poderia ser escolhida, não estudamos em internatos, mas eu diria que a gente vive num regime semi-aberto. As crianças cada vez mais cedo entram na escola, perdem sua infância e antes mesmo de aprender a brincar de bonecas e carros elas ja sabem escrever seu nome e ate já sabem falar car... o tempo passa e vem a adolescência, manhã inteira na escola, tarde com reforço ou alguma outra atividade escolhida pelos pais é claro, castigos, tarefas, provas... e aí vem a juventude, hora da responsabilidade, de escolher o que vai fazer com seu futuro, se vai ser um médico respeitado e rico ou um professor que se mata de trabalhar para ganhar pouco... pelo menos é assim que nos é repassado e, se você escolhe seguir o seu sonho, ainda tem que ouvir aquela frase “eu me matei para dar um estudo decente para você, fiz tudo que podia e não podia, me sacrifiquei para garantir seu futuro e agora você vem com essa de sonho, isso ai não da futuro não...”. Pois é. Como ter sonhos numa sociedade assim?
Sociedade dos poetas mortos tenta mostrar como a vida é bonita vista pelos olhos do poeta, como podemos ser mais felizes se corremos atrás dos nossos sonhos. O lema do internato “Tradição, honra, disciplina e excelência” é tudo que um pai busca numa escola para matricular seu filho e também é tudo que uma escola quer para se considerar bem sucedida, porém não é isso que garante uma boa educação, por isso os jovens perdem cada vez mais o interesse e a alegria de estudar, pois passam a ver os estudos como uma necessidade, como uma pressão que impede eles de buscar a diversão. Para um aluno que tá se preparando para o vestibular, ir ao cinema é sinal de vagabundagem. Como podemos ter prazer numa coisa que nos priva do que gostamos de fazer?
Isso foi o que aconteceu com Neil Perry. Ele tinha prazeres, sonhos, vontades dos quais sempre teve que se privar para ser um bom aluno e agradar seu pai. Com o aparecimento do professor Keating ele descobriu a Sociedade dos Poetas Mortos e resolveu reativar essa sociedade, onde ele e seus amigos se reuniam para falar poemas e fazer coisas que estavam interessados. Confesso que usei isso no meu terceiro ano, talvez para fugir um pouco da pressão do vestibular escrevia poemas e expressava neles todos meus sentimentos, pensei ate em escrever um livro rsrsrsrs. Essa fuga da realidade dele e dos outros membros incentivou eles a lutarem pelos seus sonhos. Mas a “Tradição, honra, disciplina e excelência” do seu pai não enxergou isso e Neil Perry enterrou seus sonhos junto com seu corpo... E de quem foi a culpa? O internato não podia perder a sua tradição, então como tudo na vida, escolhe-se o caminho mais fácil, acabou-se culpando o único que foi capaz de querer dar aos jovens uma liberdade de pensamento, culpar aquele que fez o diferente numa sociedade tradicionalista.
Alguns podem ate dizer que o fim é injusto, porém não vejo por esse lado, acho que o fim do filme nada mais é do que o duro retrato da realidade, onde nossos sonhos e vontades são enterrados, e a tradição acaba vencendo.
O filme talvez pecou um pouco por não finalizar o destino de todos, acabamos sem saber como terminaria a historia deles, mas isso torna-se insignificante perto da grandiosidade do filme e talvez o destino final daqueles jovens sejam iguais aos daqueles rostos que aparecem no começo do filme, mas eles vão ter algo diferente... eles conheceram o Carpe diem e por isso talvez possam fazer algo diferente como Keating que, apesar de ter sido expulso da escola, conseguiu mudar a visão e a forma de ensinar de alguns professores.
Não poderia finalizar essa crítica de forma diferente, então escolhi um poema que demostra bem o que um poeta é capaz de fazer em nossas vidas.


Autopsicografia

“ O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”

Fernando Pessoa