A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

25 março, 2012

Prenda-me se for capaz (Elaynne)

Se tem uma característica que admiro em qualquer ser humano é a criatividade aliada à inteligência. Na minha opinião, estes fatores somados tornam qualquer pessoa diferenciada. É exatamente o caso de Frank Abagnale Jr. Ele é inteligente. E não molda sua inteligência ao sistema, não se submete ao comum. Ele inverte a ordem das coisas, e adapta o sistema à sua criatividade e inventividade.
Desta forma, ele, apesar de ser um ladrão, falsário, estelionatário, não se torna em momento algum o vilão da história. Ninguém que assista a este filme vai torcer contra Frank Abagnale. Ninguém quer vê-lo preso. Queremos vê-lo, sim, desafiando o sistema, burlando as regras. Queremos vê-lo fazendo o que nós, muitas vezes, temos vontade de fazer, mas não temos a devida coragem, porque temos medo das consequências. Digamos que a nossa covardia e acomodação são os motivos que nos levam a torcer a favor de Frank, a vibrar e se admirar em cada empreitada nova onde ele obtém sucesso.
E como ele teve sucesso!!! Simplesmente porque ele não teve medo. Ele ousou, e numa velocidade jamais vista. Não é todo mundo que tem no currículo, aos 19 anos, milhões de dólares em cheques falsificados, um curso de medicina em Harvard e uma aprovação no exame de ordem para exercer advocacia. Além, claro, da experiência como co-piloto de uma das maiores companhias de aviação do mundo. Não é todo mundo, mesmo. E tirando a aprovação no exame de ordem, que ele conseguiu por méritos próprios, o resto ele conseguiu burlando as regras, criando novas soluções, por assim dizer.
Frank Abagnale é, como costumamos dizer, o cara. Depois de assistir a este filme, aquela máxima de que “o crime não compensa” perde um pouco o valor. Afinal, a sua vida de crimes lhe rendeu frutos excelentes e invejáveis durante a época em que roubava. Tanto para ele quanto para sua família. A família que era sua principal meta quando começou esta vida. Pode-se dizer que ele tinha um motivo nobre: restaurar o padrão que sua família tinha anteriormente, e o principal, re-unir sua família, seu pai e sua mãe. Uma parte do objetivo ele até teria conseguido, se seu pai não tivesse rejeitado o Cadilac. Mas, se não foi, não era pra ser. A vida lhe levou por outros caminhos, que ele nem imaginava. Duvido que em algum momento ele sequer tenha cogitado a possibilidade de trabalhar no FBI, ajudando a prender criminosos como ele. 
E não é que foi exatamente isso o que aconteceu?? De certa forma, ele passou a ser pago por quem ele mais roubou, o Estado. Aquele que tanto o perseguiu agora seria seu patrão, seu chefe. E uma pessoa como Frank se submete a alguém? É, se submete sim. Chega uma hora na vida em que tudo o que a pessoa quer é fugir de uma vida de agitação e passar a viver uma vida comum. Mesmo a mais diferente e agitada das pessoas passa por este momento. Chegou a vez de Frank se adaptar ao sistema.
E tudo isso se torna mais surpreendente ainda sabendo se tratar de uma história real. Aconteceu mesmo. Se fosse apenas mais um filme sobre ladrões, temos muitos onde a turma de roubos incríveis se dá bem. Esta história é diferente. São personagens da vida real. A vida real proporciona histórias incríveis como esta o tempo todo. Nem todas são trazidas para as telas, e nem com tanta perfeição como foi Prenda-me se for capaz. É um filme incrível!! É uma história inacreditável, mas é real.
E no fim, ele foi preso. Ficou sem saída. O trabalho de Carl foi feito. Que chato!!! Que sem graça. Ou não? Foi graças a isso que ele conseguiu fazer um trabalho “normal”, aceito pelas pessoas. Não sei se era isso mesmo que ele queria, acredito que não. Mas era preciso. Não dava pra passar a vida inteira fugindo e falsificando. Dá trabalho. Chega uma hora que a pessoa quer descansar, sair do risco e ter algo mais seguro.
O mais importante é que, mesmo sem ter a mesma emoção e adrenalina de antes, ele poderia exercer seus conhecimentos e suas habilidades. Mesmo adaptado ao sistema, sua inteligência diferenciada não se perderia, ao contrário, seria bem aproveitada. Os seus crimes foram o motivo de sua contratação. E alguém tem dúvida de que ele deve ter se tornado um dos melhores na sua área de atuação no FBI? Não tenho dúvidas de que ele foi brilhante no trabalho assim como foi brilhante roubando. Afinal, pessoas diferenciadas permanecem assim onde quer que estejam.



17 março, 2012

À espera de um milagre (Carlos)

Esse é um filme que sempre tive medo de comentar, por ser um dos mais complexos que acho. É um filme que posso ter assistido no mínimo umas sete vezes, mas toda vez que vejo me impressiono mais. Falar de milagre é sempre muito difícil, afinal o que é milagre? Para mim milagre é tudo aquilo que nos faz feliz... Para um casal, por exemplo, o nascimento do filho é um milagre; para um doente é a cura; para quem sofreu um acidente sair ileso é um milagre; para um desempregado um trabalho; para um condenado a liberdade... E para Deus com certeza cada um de nós é um milagre, nossa vida é um milagre, dessa forma qual o direito que temos de destruir um milagre de Deus?
Stephen King , escritor do livro o qual Frank Darabont adaptou para filme, aborda esse assunto de uma forma bem especial e sutil. Ele consegue falar de vários temas que rodeiam o milagre. O primeiro deles é a pena de morte e, como falei anteriormente, se somos milagres de Deus ninguém, por motivo algum, tem direito de tirar isso. Pena de morte sempre é um tema muito polemico devido a natureza vingativa dos homens. É muito difícil para nós perdoar alguns atos. Porém em Mt 5, 38-39 Jesus diz " Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu porem vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra" E Ele não só falou, Ele fez muitos atos que mostraram que Ele era capaz disso.
E nós, será que somos capazes de fazer tanto? Por que então ainda se discute a pena de morte? Por que não seguir esse belo ensinamento?... Infelizmente muitas vezes nosso instinto de vingança e justiça fala mais alto. No caso do filme esse tema foi mostrado de uma forma bem diferente do que estamos acostumados a ver, em vários momentos chegávamos a torcer pelos condenados, afinal eles conseguiam mostrar uma gentileza maior que a do soldado Percy. Delacroix nos fazia rir com o seu ratinho Mr. Jingles. Não era necessário para nós saber que crime aquelas pessoas tinham cometido, o momento que eles viviam era outro. Talvez dessa forma ficou mais fácil para nós vê-los como "heróis" e assim nos mostrar que as pessoas são capazes de se arrepender e mudar, e assim nos perguntar: que justiça é essa que não oferece uma segunda chance? Até onde somos capazes de julgar a ação das pessoas?
Temos naquele corredor Jonh Coffey, um homem que pela aparência todos julgariam como culpado, um homem alto, forte e negro... foi com essa aparência qu ele foi condenado, mas ao passar do filme, suas ações nos fazem pensar se ele realmente foi capaz de estuprar e matar 2 crianças. Um homem que chora, que tem medo do escuro, que é gentil, que ajuda os outros... esse é o dilema de Paul e essa duvida perdura até a hora que ele descobre a inocência de John e aí vem a outra duvida dele: cumprir ou não com o seu dever? E alem disso tudo Jonh ainda o curou e salvou também a mulher de seu amigo. Paul tinha uma divida com ele.
E então chegamos a mais uma questão da pena de morte, como iremos saber se estamos condenando pessoas inocentes? Pessoas que como Jonh só faziam o bem. Não temos essa capacidade de julgar os outros. Paul, na sua dúvida, chega a perguntar para sua mulher: "o que irei falar para Deus quando encontrá-Lo no julgamento final, que matei um de seus milagres?" Esse deveria ser o pensamento de todos antes de tirar a vida de alguém, todos deveríamos ver os outros como milagres de Deus independente de qualquer coisa.
Outro tema que é abordado é a questão do medo no personagem de Jonh. Podemos ver isso bem presente, afinal um homem alto e forte como ele iria te medo de quê? E pelo contrario ele parecia uma criança indefesa com o medo de ficar só no escuro. O medo também está presente no soldado Percy, que se sentia forte e arrogante com sua farda, mas bastou uma ameaça maior de um prisioneiro que veio à tona a sua fraqueza e ele chega ao ponto de mijar nas calças.
Vemos ainda o medo da morte exposto no rosto daqueles prisioneiro condenados e até o medo de não morrer expressado por Paul no final do filme. O medo da doença com Sam quando recebeu o diagnostico que sua mulher tinha um tumor no cérebro, enfim o filme mostra que não importa o nosso tamanho, o nosso distintivo, a nossa arrogância, a nossa bondade... todos sempre temos medo de algo e que sempre nas dificuldades da vida ela acaba aparecendo, cabe a nós mostrarmos a força nessa hora.
O filme aborda também a questão da imortalidade, uma busca insensata do ser humano. Cristo já prometia a vida eterna para quem o seguisse e isso foi e ainda é o que move muitos cristãos, acontece que o homem como sempre desvia o real sentido de Deus e busca desesperadamente meios de prolongar a vida, não envelhecer nunca, enfim, busca a vida eterna aqui na terra. Paul ganhou esse “presente” de Jonh e viveu mais que o normal, mas Paul acaba percebendo que isso não foi bem um “presente” e passa até a considerar como castigo de Deus por ter condenado à morte um de seus milagres, pois ele acaba vendo todas as pessoas que ama morrer e os novos amigos que faz também. O único que o acompanha é Mr. Jingles, que também recebeu esse dom de Jonh, mas que por ser um rato é provável que morra antes dele também. Então qual seria a vantagem de se buscar essa imortalidade aqui na terra?
Não se poderia falar de imortalidade sem se falar de morte e como o filme se passa num presídio onde vivem prisioneiros condenados à morte esse tema esteve bastante presente e com cenas até bem fortes, como foi a morte brutal de Delacroix, onde Percy não molha a esponja, ficamos durante uns 3 minutos angustiados desejando como expectador que aquele momento acabe logo. Paul e todos os outros soldados do presídio (menos Percy), tinham uma sensibilidade muito grande com aqueles condenados pois queriam dar pelo menos um pouco de otimismo para aqueles que não tinham mais nenhuma esperança.
Eles chamavam o corredor que dá acesso a cadeira elétrica de “milha verde” devido a sua cor e sempre que um dos prisioneiros eram condenados eles proporcionavam o seu “grande momento” como a apresentação de Mr Jingles e uma das cenas mais emocionantes que é o filme assistido por Jonh, seu primeiro filme, no qual ele chora emocionado e nos mostra que a sensibilidade não é sinal de fraqueza e sim de grandeza. Como Paul disse “todos temos nossa milha verde” então devemos sempre buscar nossos sonhos por mais simples que possam parecer, pois são eles que nos dão otimismo e esperança para seguir em frente.
Por fim termino como comecei, falando de milagre. Jonh tinha um dom extraordinário, ele era capaz de curar as pessoas, de tirar o que elas tinham de ruim e colocar para fora... E foi por causa desse dom que ele foi parar na prisão e foi com ele também que ele conseguiu a admiração de todos ali. Mas por que o autor escolheu um negro, simples e analfabeto e escolheu também um corredor da morte o lugar para ele mostrar seus dons? Talvez a mensagem seja simples: o milagre pode acontecer em qualquer lugar, através de pessoas que não esperamos e nas situações menos prováveis, basta a gente ter a sensibilidade de vê-lo.


05 março, 2012

Menina de ouro (Elaynne)

Menina de ouro é um filme incrível. Não são todos os filmes que fazem você sair com raiva, com ódio, até, de um personagem. Menina de ouro consegue esta façanha. Faz você odiar uma pessoa como se fosse alguém que existe de verdade.
Este filme merece ser analisado em partes. A primeira, o início da história. Um homem isolado do mundo, abandonado pela família, que se relaciona unicamente com um ex-companheiro do boxe. E ele é bom. É um excelente treinador. Sabe tirar o melhor de seus discípulos. Sabe explorar bem o potencial dos alunos de sua academia. Mas tem medo. E este medo ele passa a seus alunos na forma de sua principal lição: ANTES DE TUDO, SE PROTEJA. Frankie Dunn é alguém que se protege. Que se resguarda de seus sentimentos. Que tenta de alguma forma se aproximar da filha distante, mas não o suficiente.
Por ser treinador de boxe, Frankie é acostumado a lidar com pessoas teimosas. Seu único amigo, Scrap, é prova disso. Mas ele não estava preparado para a teimosia de Maggie.
Maggie tem um dom. Muitas pessoas aprendem o que fazem. Maggie foi apenas lapidada. Ela já sabia lutar, já sabia bater. Ela lutou durante toda sua vida, com uma família que a desprezava, que desprezava seu dom, que ria na sua cara. Ela lutou e venceu. Ela lutou com Frankie, até convencê-lo a ser seu treinador. Ela lutou e venceu. De novo. Maggie era uma vencedora.
E com a ajuda de Frankie, Maggie se tornou a maior vencedora. Carismática, conhecida. Se tornou “Ma cushie”, a querida do público. Todos gritavam seu nome. Todos torciam por ela. Todos sabiam que ela poderia ir além. Maggie parecia não ter limites. Até lutar com a Ursa azul. Uma mulher que sabia lutar, mas não sabia perder. Ela com certeza não conhecia a frase que o sr. Scrap usou para consolar o garoto Danger: Qualquer um pode perder uma luta.
É verdade. Qualquer um pode perder. Mas ganhar? Só quem é realmente bom. Quem é incrível. E lidar com as vitórias? Só quem sabe o valor da vitória. Quem recebe a vitória de mão beijada, sem esforço, sem luta, não dá valor. Ursa azul era assim. Maggie não. Por isso ela comemorava cada vitória como sendo única, como sendo a primeira. Com o passar do tempo, as pessoas acabam por perder o ânimo de vencedores. Acabam se conformando e desistindo de tentar. Maggie não era assim. Ela não desistiu. Ela tentou. E em suas próprias palavras, ela “mandou bem”.
Até onde deu. Chegou uma hora e uma circunstância em que não deu mais. E aí entramos na segunda parte da análise. Maggie tentou, não perdeu o bom humor jamais. Resistiu e insistiu. Em todos os momentos, ela jamais se passou por coitadinha. Não aceitou sentimento de pena de ninguém. E nem dava pra sentir pena de Maggie. Mesmo no leito do hospital, respirando apenas com a ajuda de um aparelho, mexendo apenas com os olhos e a boca, Maggie ainda era uma vencedora. Sua expressão não mudou com o sofrimento. Seu sorriso bonito continuou iluminando a vida sem graça do treinador Frankie, o chefe.
E Frankie também não desistiu de Maggie. Ele insistiu com médicos, procurou outros hospitais, dedicou seu tempo e seus esforços para tentar recuperar Maggie, até onde pôde. Não me parece que ele tenha se esforçado tanto assim para manter sua família. Tinham as cartas que ele enviava para a filha, mas só. É pouco. Era preciso mais, e se ele tivesse feito esse “mais”, provavelmente teria a companhia da sua filha, e não seria um velho solitário.
E se ele tivesse feito esse “mais”, provavelmente também Maggie não seria tão importante para ele como foi. Maggie fez a diferença na vida de Frankie, enquanto lutava e quando deixou de lutar. A partir do momento em que decidiu ser seu treinador, Frankie viveu para fazer de Maggie uma vencedora, para não deixá-la desistir. E conseguiu.
Mas nem Frankie nem Maggie estavam preparados para aquele acidente. Maggie, no entanto, estava feliz, e tinha a sensação do dever cumprido. Deu uma oportunidade de vida melhor pra sua família. Lutou e venceu, apesar da idade, apesar das condições. Teimou. Insistiu. E realizou seus sonhos. Já tinha vivido o suficiente para ver seus desejos se tornarem realidade.
Portanto, o pedido de Maggie não é algo tão inacreditável assim. Maggie viveu intensamente desde que começou a treinar com Frankie. E ali, naquela UTI, ela não vivia mais. As pessoas têm medo de morrer, mas principalmente de viver, e acabam morrendo sem ter vivido. Maggie queria morrer porque tinha consciência que tinha vivido. Não precisava conseguir mais nada. E, como disse Scrap, suas últimas palavras provavelmente seriam: “eu fui bem, não fui, chefe?”
Gostei da escolha, morzinha. Se eu já tivesse assistido antes, este filme também estaria na minha lista.