A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

03 janeiro, 2014

Psicose (Elaynne)

Um filme não é considerado um clássico a toa. E não é a toa que Psicose está, em muitas listas, entre os 10 ou 20 melhores filmes da história do cinema. Também não é por acaso que é considerado a obra prima do diretor Alfred Hitchcock.
Quando vi que o filme é em preto e branco, até estranhei, porque no ano em que foi feito, o cinema colorido já estava bem presente. Mas, pesquisando um pouco, descobri que foi por escolha do próprio diretor, que acreditava que, filmado em cores, as cenas de assassinato ficariam mais violentas. E, já que foi feito em preto e branco, foi possível utilizar calda de chocolate como sangue na cena do chuveiro.
Falando nesta cena... Se alguns dizem que este filme está entre os dez ou vinte melhores da história, aquela cena do chuveiro eu diria que está entre as cinco mais famosas da história do cinema. Sempre que se fala em suspense, em Hitchcock ou simplesmente em cinema, esta é uma das cenas que vêm à mente. 
Como eu disse no começo, um filme não se torna um clássico a toa. Psicose tem uma história bem contada, personagens bem interpretados e um final, para muitos, surpreendente. Se bem que eu já havia desconfiado de tudo quando a irmã de Marion, Lila Crane, junto com Sam, vão até o xerife e descobrem a verdade sobre a mãe de Norman. Mas não tira em nada o mérito da surpresa no fim da história. 
No início da história, quando Marion rouba os quarenta mil dólares, eu acreditei que o filme seria sobre sua fuga, e o medo de ser descoberta, que geraria nela uma paranoia, ou uma psicose. Acreditei nisso mais ainda, quando ela está no meio da estrada e é parada por um guarda, e este guarda a segue até a loja onde ela troca de carro, quase esquecendo sua mala por lá.
Só que aí vem a famosa cena do chuveiro, e tudo muda. Nesta parte, parece até que os acontecimentos não fazem muito sentido, principalmente para quem, assim como eu, imaginava que Marion seria a personagem central da trama. A partir desta cena, aos poucos, começamos a entender de qual Psicose o título do filme trata. Quem era, realmente, o psicótico da história.
Ou não. Porque, também neste momento, entra uma personagem obscura, desconhecida, e em nenhum momento esta personagem revela seu rosto: a mãe de Norman. Primeiro, no chuveiro com Marion. Mais tarde, na sua casa, com o detetive Arbogast. Aí sim temos a certeza: a Psicose do título do filme é da mãe de Norman.
E, pela excelente trama e forma como o enredo se desenvolve, ao fim do filme percebemos que nos enganamos mais uma vez. Somente no final descobrimos que, durante a maior parte do filme, o psicótico estava diretamente participando da história, aparentemente tentando encobrir os crimes da mãe. Trata-se do recepcionista do hotel de estrada, Norman Bates.
Mas sua psicose não se tratava simplesmente de esconder os crimes da mãe. Era algo bem mais sério, bem mais profundo. Norman, em determinados momentos, acreditava ser uma pessoa que não existia mais. Acreditava ao ponto de conversar com esta pessoa, que era ele mesmo, ou melhor, uma outra pessoa dentro dele, uma segunda personalidade.
O maior problema para Norman é que esta segunda personalidade o estava dominando. Estava tomando conta do próprio Norman, e o levando a fazer coisas que ele não faria em sua personalidade normal. Tratava-se de um caso realmente raro, em que dificilmente Norman poderia ser responsabilizado pelos atos que sua outra personalidade fazia. Este é um caso típico onde o réu não pode ter a culpa imputada a si mesmo, visto estar fora de si. A única solução para Norman seria um sanatório, ou manicômio.
Se o diretor teve mesmo que hipotecar sua casa para conseguir os recursos com os quais gravaria Psicose, é algo que só saberemos ao assistir ao filme Hitchcock, recém lançado com o incrível Anthony Hopkins. Mas, se ele realmente fez isso, valeu a pena. Foi um filme relativamente barato, e que teve uma arrecadação muito superior. Certamente, sua bilheteria deu pra pagar de volta a hipoteca, que foi uma das hipotecas mais rentáveis da história. Valeu a pena. Só não valeu a pena, para Marion, ter levado os 40 mil dólares da empresa onde trabalhava.