A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

17 abril, 2014

Bastardos Inglórios (Carlos)

Percebe-se logo que é um clássico filme de Quentin Tarantino. Tarantino tem um jeito único de discutir seus temas que faz com que seus filmes tenham uma identidade e estilo. Assim, mesmo sem saber o diretor, você já imagina. Uma dessas características é a reunião de um grande elenco, ele consegue misturar grandes atores sem ofuscar nenhum aproveitando o melhor que cada um tem a oferecer.
Foi assim com Brad Pitt, por exemplo, que está impagável como o líder dos Bastardos. Ele mostra excelentemente uma caricatura e um cinismo tipico do seu personagem. Mélanie Laurent que foi brilhante também ao mostrar o lado sofredor e ao mesmo tempo forte e vingativo da Shosanna e principalmente Christoph Waltz (vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante) que fez o que era impossível, roubar todas as cenas em que aparecia como o nazista Hans Landa. Ele faz uma atuação tal perfeita que você, sem querer, pode até achar que ele é o herói do filme. Outra característica do diretor são as tipicas cenas de violência, principalmente as cenas dos Bastardos Inglórios em atuação.
O filme trata da 2ª Guerra Mundial, época em que a França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica conhecido por seus inimigos como Os Bastardos, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é matar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível.
Paralelamente Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que fuja para Paris. Lá ela se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja um meio de se vingar. E os destinos de todos convergem para esse cinema 
 Olhando esse enrendo pode se fazer uma conclusão precipitada de que é mais uma filme de guerra como todos outros. Porém, como já disse, quando se fala de Tarantino nada é igual aos outros. Ele faz uma caricatura inteligentíssima desse cenário, o que as vezes chega até ser divertido, pois mostra estereótipos conhecidos como os nazistas engomadinhos, a atriz francesa, o americano bruto, o inglês educado...
Outra coisa que vale a pena destacar é o uso dos idiomas locais para personagens de nacionalidades diferentes. Isso mostra que seu diretor respeita a inteligência de seu público e não nos faz pensar que todos sabem falar inglês ( isso é até raro de se ver nos filmes).
O filme realmente é brilhante e no meu ponto vista conseguiu passar exatamente o que o diretor quis mostrar. A cena final no cinema foi muito bem bolada, principalmente a do nazista com a Shosanna. Essa cena mostra um suspense que você as vezes acha que os dois vão ceder e acabar se entregando um ao outro e no fim acontece exatamente o contrário, sem contar os cortes de cena entre o filme que está sendo passado e o que está acontecendo na realidade. Méritos novamente para o diretor e para os atores.


16 março, 2014

O Leitor (Elaynne)

Quando você consegue fazer um filme onde um dos temas abordados é a literatura, as chances de sair um
bom filme são grandes.
Este é o caso.
Tem um enredo baseado em uma boa ideia, que foi bem desenvolvida. 
Por vivermos em um país onde muitas pessoas aprenderam a "desenhar" o nome, e não sabem diferenciar uma letra da outra, sabemos bem o valor que tem a educação, e como o simples fato de ser alfabetizado (o que para muitos é uma coisa banal) faz a diferença em todas as etapas da nossa vida. Ocorre que, com o passar do tempo e dos estudos, valorizamos mais o conhecimento específico que adquirimos, e esquecemos que tudo começou em uma sala de alfabetização.
E aí, O LEITOR nos apresenta Hanna Schmitz, uma mulher solitária, de poucas palavras, misteriosa. Com estas características, Hanna encantou e seduziu o jovem Michael Berg, mesmo que não tivesse a intenção de fazê-lo. Ela o seduziu e se deixou seduzir. Aos poucos viu-se envolvida em um romance forte com um garoto que tinha apenas metade da sua idade.
A questão é que este jovem tinha uma certa habilidade que Hanna não possuía, e que sentia falta. Era algo tão constrangedor para ela, que nunca foi revelado. Ela preferiu assumir a culpa por algo que não fez a confessar diante de uma multidão que não sabia ler ou escrever, que era analfabeta.
A história de amor entre os dois é até bonita. Especialmente durante a viagem de bicicleta que fizeram, podemos perceber como os dois estão felizes ao lado um do outro, como estão enamorados, apaixonados. É um momento daqueles que dá vontade de durar pela eternidade, uma fuga da realidade dos outros, a criação de uma realidade só deles, onde ninguém interfere. Quem já se apaixonou e foi correspondido sabe como é. 
Mas, como aquela vida não era a realidade, um certo dia aquele casal se desfez, quando Hanna desaparece sem deixar notícias. A vida aparentemente segue para Michael, o garoto, que conclui seus estudos e vai para a universidade, cursar Direito. 
Durante seu curso, em uma aula prática, em que um grupo de alunos é convidado a assistir ao julgamento de mulheres acusadas de matar e levar à morte judeus durante a guerra, Michael vê seu amor de adolescente no banco dos réus. Aquela mulher misteriosa, de quem muito pouco se sabia, era acusada de liderar um grupo que levou vários judeus à execução.
Na minha opinião, se o filme se encerrasse com o fim do julgamento, já seria um grande filme. É nesta hora que Michael tem a chance de retribuir o que Hanna fez por ele alguns anos antes, quando o encontrou doente em um beco e cuidou dele. Pode-se dizer que Hanna salvou a vida de Michael, e agora ele teria a oportunidade de fazer o mesmo. Porque mais uma vez a vergonha de confessar o analfabetismo prejudicou Hanna, e ela assumiu a autoria de uma carta cujo autor confessava ter aprisionado judeus dentro de uma igreja em chamas. Ela assumiu este crime, para não assumir sua falta de estudos.
Michael passou por um dilema moral muito forte. No caso dele, a única razão que se pode buscar para ele não interferir no julgamento seria a vergonha de assumir, diante de professores e amigos, que teve um caso com uma mulher muito mais velha e que, para piorar, trabalhou para os nazistas. Ele preferiu se omitir, preferiu não usar a informação que tinha e que poderia salvar uma vida. Por orgulho, preferiu ver a mulher a quem um dia amou ser condenada à prisão perpétua.
Como disse, pra mim o filme poderia terminar aí que já seria um ótimo filme. Mas a história continua, e Michael, já mais velho, entende que não pode remediar seu ato, mas pode fazer algo por Hanna. Algo que significasse muito para ela. E passa a gravar em fitas os livros que lia para ela quando estavam juntos. 
Percebemos, então, que Hanna é uma mulher mais determinada e forte do que imaginávamos, pois com estas fitas em mãos, ela aluga os livros correspondentes na biblioteca da prisão e aprende a ler e escrever. Ela, que poderia estar resignada, esperando a morte chegar na cadeia, encontra um motivo para continuar.
A vida não é diferente. Por mais que estejamos perdidos, sem saber que rumo tomar, devemos acreditar que sempre há um bom motivo para permanecer lutando. Podemos até pensar que estamos perdidos, pensando em jogar a toalha. Mas a vida sempre tem algo a nos oferecer de bom. Há pessoas incríveis, há sentimentos bons, e se tivermos a sabedoria para olhar no lugar certo, encontraremos motivos para lutar até o fim, não desistir.
Também, na outra ponta, sempre podemos fazer algo de bom pelas pessoas. Mesmo que tenhamos decepcionado esta pessoa em determinado momento, mesmo que tenhamos feito algo que nos envergonha, mesmo que carreguemos a culpa por uma ação ruim que fizemos, temos a opção de mudar nossas ações, enfrentar nossos erros e fazer o que é certo.
Dizer que não dá mais tempo é só uma desculpa. Sempre é tempo de se fazer a coisa certa por alguém.  Imagina como teria sido a vida de Hanna na prisão, sem as fitas de Michael? O fim que levou certamente teria acontecido bem mais cedo. Mesmo não livrando Hanna da prisão, Michael vez com que seus dias lá dentro fossem um pouco melhores. E os dias de Michael foram melhores por conta disto, também.


17 fevereiro, 2014

O morro dos ventos uivantes (Carlos)

Eu esperava mais do filme, afinal sempre ouvi falar muito dele e acho que fui com muita expectativa. Não que o filme seja ruim, mas é muito cansativo, deixa a desejar em algumas coisas e sinceramente pelo filme não senti vontade nenhuma de ler o livro, porém espero sinceramente que o livro seja melhor e apenas a adaptação tenha sido ruim.
"O morro dos ventos uivantes"  fala de um amor impossível entre Catherine Earnshaw e o cigano Heathcliff, que foi trazido pelo pai de Catherine e criado como seu irmão. Porém essa proteção gera ciúme de Hindley Earnshaw, seu irmão verdadeiro que, após a morte do pai, faz de Heathcliff seu empregado e o trata com desprezo e crueldade.
O tema central desse filme talvez seja o mundo das paixões obsessivas e em particular a de Heathcliff que, depois do casamento de sua amada, foge e junta dinheiro apenas com um objetivo: voltar e buscar a vingança, fazer com que todos sofram. Para isso não mede esforços e não é capaz de poupar ninguém e isso o deixa cego a tão ponto de não ver o amor de Catherine por ele.
No meu ponto de vista o que Heathcliff sentia não era amor, pois vendo o conceito de amor em I Coríntios 13: 


"O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece.
Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal;
Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade;
Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 1 Coríntios 13:4-7"

O amor não geraria esse desejo de vingança e nem essas maldades, pois ele é sofredor, porém mesmo sofrendo não deseja o mal, não se irrita, não busca seus interesses. Como disse no começo, é uma paixão desmedida.
Mas se uma coisa tem que ser elogiada nesse filme foi a atuação de Heathcliff, ele conseguiu transmitir toda a angústia e pertubação do seu personagem, o que não pode-se ver muito em Catherine.
Por fim acho que por essas e outras que o filme, apesar de ter sido indicado a oito Oscar, incluindo o de melhor filme do ano, levou somente a estatueta de melhor fotografia em preto-e-branco.
Bati o recorde de menor comentário rsrsrsrs, porém acho que o sono ajudou também.


03 janeiro, 2014

Psicose (Elaynne)

Um filme não é considerado um clássico a toa. E não é a toa que Psicose está, em muitas listas, entre os 10 ou 20 melhores filmes da história do cinema. Também não é por acaso que é considerado a obra prima do diretor Alfred Hitchcock.
Quando vi que o filme é em preto e branco, até estranhei, porque no ano em que foi feito, o cinema colorido já estava bem presente. Mas, pesquisando um pouco, descobri que foi por escolha do próprio diretor, que acreditava que, filmado em cores, as cenas de assassinato ficariam mais violentas. E, já que foi feito em preto e branco, foi possível utilizar calda de chocolate como sangue na cena do chuveiro.
Falando nesta cena... Se alguns dizem que este filme está entre os dez ou vinte melhores da história, aquela cena do chuveiro eu diria que está entre as cinco mais famosas da história do cinema. Sempre que se fala em suspense, em Hitchcock ou simplesmente em cinema, esta é uma das cenas que vêm à mente. 
Como eu disse no começo, um filme não se torna um clássico a toa. Psicose tem uma história bem contada, personagens bem interpretados e um final, para muitos, surpreendente. Se bem que eu já havia desconfiado de tudo quando a irmã de Marion, Lila Crane, junto com Sam, vão até o xerife e descobrem a verdade sobre a mãe de Norman. Mas não tira em nada o mérito da surpresa no fim da história. 
No início da história, quando Marion rouba os quarenta mil dólares, eu acreditei que o filme seria sobre sua fuga, e o medo de ser descoberta, que geraria nela uma paranoia, ou uma psicose. Acreditei nisso mais ainda, quando ela está no meio da estrada e é parada por um guarda, e este guarda a segue até a loja onde ela troca de carro, quase esquecendo sua mala por lá.
Só que aí vem a famosa cena do chuveiro, e tudo muda. Nesta parte, parece até que os acontecimentos não fazem muito sentido, principalmente para quem, assim como eu, imaginava que Marion seria a personagem central da trama. A partir desta cena, aos poucos, começamos a entender de qual Psicose o título do filme trata. Quem era, realmente, o psicótico da história.
Ou não. Porque, também neste momento, entra uma personagem obscura, desconhecida, e em nenhum momento esta personagem revela seu rosto: a mãe de Norman. Primeiro, no chuveiro com Marion. Mais tarde, na sua casa, com o detetive Arbogast. Aí sim temos a certeza: a Psicose do título do filme é da mãe de Norman.
E, pela excelente trama e forma como o enredo se desenvolve, ao fim do filme percebemos que nos enganamos mais uma vez. Somente no final descobrimos que, durante a maior parte do filme, o psicótico estava diretamente participando da história, aparentemente tentando encobrir os crimes da mãe. Trata-se do recepcionista do hotel de estrada, Norman Bates.
Mas sua psicose não se tratava simplesmente de esconder os crimes da mãe. Era algo bem mais sério, bem mais profundo. Norman, em determinados momentos, acreditava ser uma pessoa que não existia mais. Acreditava ao ponto de conversar com esta pessoa, que era ele mesmo, ou melhor, uma outra pessoa dentro dele, uma segunda personalidade.
O maior problema para Norman é que esta segunda personalidade o estava dominando. Estava tomando conta do próprio Norman, e o levando a fazer coisas que ele não faria em sua personalidade normal. Tratava-se de um caso realmente raro, em que dificilmente Norman poderia ser responsabilizado pelos atos que sua outra personalidade fazia. Este é um caso típico onde o réu não pode ter a culpa imputada a si mesmo, visto estar fora de si. A única solução para Norman seria um sanatório, ou manicômio.
Se o diretor teve mesmo que hipotecar sua casa para conseguir os recursos com os quais gravaria Psicose, é algo que só saberemos ao assistir ao filme Hitchcock, recém lançado com o incrível Anthony Hopkins. Mas, se ele realmente fez isso, valeu a pena. Foi um filme relativamente barato, e que teve uma arrecadação muito superior. Certamente, sua bilheteria deu pra pagar de volta a hipoteca, que foi uma das hipotecas mais rentáveis da história. Valeu a pena. Só não valeu a pena, para Marion, ter levado os 40 mil dólares da empresa onde trabalhava.