A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

04 agosto, 2012

Rain Man (Carlos)


Um filme excelente, onde Dustin Hoffman fez uma atuação brilhante, provavelmente uma das melhores. Dustin interpreta Raymond Babbitt, um autista que muda a vida de Charlie Babbitt, e se falamos de autismo não tem como não falar de preconceitos. O autista tem um sério problema de comunicação e socialização, e isso faz com que os autistas sejam discriminados e isolados. Por causa dessa característica surge uma dúvida se eles podem ou não viver na sociedade, e essa se torna uma questão no filme. 
Após a morte do pai, Charlie Babbitt vai atras de descobrir quem herdou a fortuna, e então descobre que tem um irmão, Raymond. Charlie resolve se aproveitar da deficiência do irmão para recuperar sua parte na herança, e numa viagem de 6 dias pelo país ele começa a descobrir que a vida é mais do que dinheiro. Ao começar a conviver com seu irmão, descobre algumas coisas do seu passado, principalmente que Raymond é o seu amigo "imaginário" da infância que era chamado de Rain Man e, principalmente, descobre que Rain foi internado pela família por medo dele machucar o bebê Charlie. Isso começa a mudar a visão de Charlie sobre família e amor. 
Charlie também descobre que Rain, apesar do seu autismo, tem uma capacidade de memorização e contagem além do normal, e isso desmitifica a ideia de muitas pessoas que autismo é sinônimo de demência, e creio que até Charlie tinha essa ideia.
O filme trata de uma forma muito delicada e inteligente esse tema. Nós evoluímos junto com Charlie. O ponto alto do filme talvez seja o momento que Charlie resolve levar Rain para Las Vegas e ganha muito dinheiro no cassino com a grande capacidade de Rain de contar cartas. Falando dessa forma até parece que Charlie se aproveitou da capacidade de Rain para ganhar dinheiro, claro que isso não deixa de ser verdade. Mas o que destaco nesse momento é a hora que Charlie ensina Rain a dançar.Percebemos ali o olhar orgulhoso de Charlie, não pelo fato de Rain ter conseguido muito dinheiro para ele, e sim de orgulho pelo irmão que tinha: um autista mas que conseguiu ensinar a ele o grande valor do amor. Engraçado é que, exatamente um autista, que não expressa nenhum sentimento e tem dificuldade de se socializa,. como isso é possível? O filme explica isso de uma forma tranquila, sem apelar para o sentimentalismo. 
Essa transformação de Charlie é comprovada quando percebemos no fim a luta pela custodia de Rain, mas não pelo dinheiro e sim pelo fato de ter um irmão, e vemos uma reunião com o medico que irá dar o parecer para isso. Mas o que vemos nesse momento é o preconceito falar mais alto, e na conclusão mostra-se que um autista é incapaz de viver em sociedade.
Mas será que é esse o veredicto mesmo? O que vimos nesses dias que Rain passou com seu irmão foi exatamente o contrário. Ele teve novas experiencias, fez piadas, dançou, riu, beijou, viu filme, dirigiu o carro... Isso é viver em sociedade e são coisas que com certeza ele não faria dentro de um hospital, isso não quer dizer que Rain não precise de acompanhamento médico, é claro que precisa, porém ele precisa também de uma pessoa que o ame e o respeite, e foi isso que Charlie fez. 
Barry Levinson acertou na escolha dos atores, acertou no tema, acertou na delicadeza de tratar o tema e fez um filme espetacular. Não foi a toa que ganhou o oscar de melhor filme, melhor direção, melhor roteiro original e melhor ator.



16 julho, 2012

Poltergeist (Elaynne)


Uma vez, na sexta série, meus amigos se reuniram para brincar do famoso jogo do copo. Eu não sabia do que se tratava, e perguntei se podia participar. Um deles disse que era melhor eu não “mexer com estas coisas”, que não seria bom pra mim. Depois de um tempo eu entendi o que ele estava querendo dizer.
O desconhecido, o sobrenatural, tudo isso assusta. Mesmo em situações de filmes, a gente se pergunta: e se acontecesse de verdade? Seria como num filme? Teria solução? Ou seria algo que duraria até o fim da vida, eternamente?
Pra quem já assistiu aos filmes da série “Atividade Paranormal”, assistir Poltergeist dá a impressão de que este último é uma imitação dos primeiros, só que com um final “feliz”. Mas não é bem isso, e sim o contrário. Daria pra dizer que “Atividade Paranormal” é uma espécie de Poltergeist com finais sombrios.
Dizendo isso, já fica a dica: quem gostou de Atividade Paranormal vai gostar de Poltergeist. Claro, não dá pra comparar os efeitos atuais com os daquela época. Mas Poltergeist teve seus méritos quando foi filmado, tanto que chegou a ser indicado ao Oscar de efeitos especiais. Aí, quando você descobre que por trás do roteiro e direção do filme está Steven Spielberg, fica explicada a indicação aos prêmios.
É um filme com cenas, de certa forma, angustiantes. Como a cena da árvore tentando pegar o garoto no início, ou as cenas finais, na tentativa de libertar Carol Anne do local onde ela está aprisionada, e ainda a fuga da casa, que se torna ela toda uma “coisa” tentando destruir a família. São cenas que nos deixam apreensivos e ansiosos, esperando que terminem o quanto antes.
Quando os pais dizem aos filhos que não devem ver televisão até tarde, talvez seja por causa deste filme. O interessantes dos filmes deste gênero é que cada um tem uma explicação ou situação diferente que liga os “espíritos” de outro mundo ao nosso. E na maioria deles, estas ligações são coisas aparentemente simples, brincadeiras, nada que alguém repare ou dê a devida atenção. Detalhes.
Mas há quem diga que o diabo está nos detalhes. E uma televisão fora do ar de madrugada é um detalhe destes, que transforma a vida da família Freeling num pesadelo. Nunca duvide do que uma criança diz, por mais absurdo que possa parecer. Crianças sabem de coisas, vêem coisas, escutam coisas, percebem coisas, que nós, adultos, não percebemos. Eu acredito nisso. E os pais de Carol Anne deviam ter acreditado, também.
Há quem diga que o que aconteceu neste filme pode perfeitamente acontecer na vida real. Talvez possa, sei lá. Não duvido de nada. Há muita coisa sem explicação neste mundo, tantos absurdos e mistérios, que prefiro não me aprofundar em determinados assuntos. Se há mesmo a possibilidade de ser atormentado por espíritos de outro mundo, quanto mais longe disso, melhor. Melhor nem falar. Deixa pros filmes nos mostrarem como poderia ser.
O filme tem sequencias, e isso dava pra esperar. Afinal, os espíritos vieram porque o condomínio foi construído sobre um antigo cemitério. E o dono da empresa que construiu o condomínio já estava de olho em outro terreno de cemitérios para fazer novas casas. Então, novas famílias certamente seriam atormentadas, assim como foram os Freeling. E para o dono da empresa, nada? Aparentemente não. Ele bem que merecia ter a casa invadida pelos espíritos, que poderiam passar o resto da vida o atormentando, até que ele perdesse a razão total.
Quem sabe assim ele aprenderia a não ver apenas o aspecto financeiro das coisas, a não pensar somente em lucro. Se isso acontecesse, ele talvez passasse a ter uma visão mais humana, e a ter mais respeito pela memória de quem já se foi. Mas, como o foco do filme não era ele, esta parte da história não foi contada.
O importante é que, depois deste filme, ninguém mais deixou a televisão ligada fora do ar, com aquela tela barulhenta, cheia de brilhos. Talvez tenha sido por isso que criaram a tela com fundo azul, para canais fora do ar. Mas acho que isso não resolveu o problema dos espíritos. E enquanto houver espíritos, sempre vai haver filmes com histórias cheias de suspense e esperando ansiosamente o final. Quer seja Poltergeist, quer seja Atividade Paranormal. Tanto faz. São bons filmes. Poltergeist é um bom filme.



02 julho, 2012

...E o vento levou (Carlos)


Eu tinha uma visão totalmente diferenciada desse filme. Quando se falava em "E o vento levou" eu imaginava um filme extremamente romântico, daqueles tipo Romeu e Julieta ou Casablanca. Porém logo no começo você se depara com uma garota que para a época era muito revolucionária, gostava de se exibir, de ter a atenção de todos os homens, não tava nem aí para as etiquetas e, além de tudo isso, ela fez de tudo para ficar com o noivo de sua amiga.
Após tudo isso ainda aparece um homem de má reputação, que só busca a diversão nas mulheres. Aí você para pra pensar: onde vai estar o romantismo aí?.... A primeira impressão é que seja talvez no amor de  Scarlett por Ashley, ou de Rhett por Scarlett, mas temos também o de Ashley por Melanie, e acabamos percebendo o de Melanie por Scarlett e até o filme do filme fica essa dúvida. 
O fato do filme ser longo (está entre os 5 mais longos de todos os tempos) não o torna chato, nem cansativo, porém acho que se fosse hoje, teriam pelo menos uns 2 ou 3 filmes, o que dava para fazer, já que no próprio filme ele separa suas fases. O filme passa por várias etapas, aborda vários temas, porém em nenhum momento perde o sentido. A única crítica que poderia fazer quanto a isso é que, apesar do tempo que passa, os personagens do filme não envelhecem, mesmo depois de tantas lutas e sofrimentos. Esse fato poderia ser corrigido hoje em dia com os grandes recursos de maquiagem. Uma coisa que chama a atenção logo de cara é a fotografia do filme e, se impressiona até hoje, imagina para a época. Mesmo percebendo suas limitações a gente fica impressionado.
Voltando ao filme encontramos Scarlett, uma mulher que escolhe seu objetivo e corre atrás dele passando por cima de tudo. Seu objetivo parecia muito simples para ela, era só dizer para Ashley que o amava e então eles se casariam e como todos os homens da cidade eram louco por ela isso seria fácil. O único problema era que ele estava noivo, e no momento em que ela se declara pela primeira vez ela é rejeitada por um homem. Ashley diz que ama Melanie e logo após ouvir isso ela ainda ouve umas meninas cochichando que Scarlett não uma mulher que os homens querem para casar e, diante de tudo isso, numa ação desesperada, ela resolve se casar com o irmão de Melanie só para mostrar que podia se casar e para causar ciúme em Ashley.
No meio de tudo isso temos a guerra que é um dos pontos mais fortes do filme. Ali podemos ver uma situação muito comum na época, a luta por terra e por poder e no meio disso os jovens que, iludidos com a chance de serem heróis e por amor a sua pátria, vão em busca dessa luta.
Iludidos, eles largam suas famílias, amores, amigos e terra, para lutar por algo que muitas vezes não sabem nem o que é e em muitos casos como o do filme uma causa impossível. Talvez se eles se tivessem se rendido desde o começo, não haveriam perdido tantos jovens, homens e terras e pudessem estar mais fortes para combater o inimigo. Hoje em dias as guerras não são tão mais comuns, porém quando acontecem, o discurso é o mesmo, a ilusão é a mesma e as perdas são as mesmas, e o resultado... crianças órfãs, viúvas e terras que o vento levou...
Scarlett ficou viúva e teve que lutar muito para sobreviver. Prometeu a Ashley cuidar de Melanie e por esse amor ela cumpriu sua promessa mesmo arriscando sua vida. Melanie, por outro lado, cuidava de todos pelo simples fato de querer ajudar e, desde o começo, ela mostrava uma grande admiração por Scarlrett. Por ter seu coração puro ela conseguia ver o lado bom de todos, inclusive de Scarlett e, mesmo com todos dizendo o contrario e fazendo intrigas, ela a defendia sempre.
Numa segunda parte do filme, quando os Yankes já haviam dominado e destruído tudo, Scarlett resolve voltar pra Tara, terra de sua família, e tendo que levar consigo Melanie doente e seu filho recém-nascido. Para lhe ajudar com isso ela só conhece uma pessoa, Rhett, um romântico cafajeste e irônico. Meio estranho isso né? Porém, para o filme, deu muito certo. O diretor conseguiu fazer um anti-herói e uma anti-heroína se tornarem grandes protagonistas. Rhett ajudou Scarlett a sair da cidade, e começamos a perceber que apesar de seu jeito e do fato de sempre repetir que não queria casar, ele começa a sentir algo diferente por Scarlett.
Ao retornar a Tara, Scarlett percebe que nada é mais como antes e, com fome e uma grande responsabilidade, ela diz "Nem que eu tenha de mentir, trair, matar ou roubar. Com Deus como testemunha, eu nunca mais vou passar fome na vida (...) de qualquer maneira, amanhã é um novo dia" e foi exatamente assim que aconteceu, ela mentiu, traiu, "matou" e roubou, porém manteve Tara.
Percebemos nessa parte do filme uma certa dose de feminismo, pois naquela época as mulheres eram criadas para serem submissas e Scarlett faz tudo ao contrario, toma de conta do terreno, da família, dos negócios e para não perder Tara para os ianques, ela casa-se novamente com um homem que não ama por causa do dinheiro. Para piorar a situação ele ainda era o pretendente da sua irmã, mais uma vez ela é criticada por todos, menos por Melanie.
Ao ficar viúva pela segunda vez, Rhett convence-a a se casar com ele e, mais uma vez, ela se casa por conveniência e percebemos que aquele grande cafajeste se tornou um extremo romântico e até um homem do sonhos de todas as mulheres, esposo amoroso, pai perfeito... Porém Scarlett continuava obcecada por seu falso amor por Ashley, tornando-se infeliz nesse casamento também. Ao descobrir que realmente ama Rhett já é tarde demais, pois ele cansado de tudo vai embora.
E o que falei no começo sobre romantismo, percebemos nesse momento que o romance de "E o vento levou...." não esta no amor de  Scarlett por  Ashley, que descobre que era só mais um capricho, nem no de  Rhett por  Scarlett, que depois de tanto insistir em ouvir que ela o amava não foi capaz de resistir ao desprezo quando isto aconteceu, nem o amor de Ashley por Melanie que, mesmo sendo verdadeiro, não se tornou o centro da história e então ficamos com o de Melanie por Scarlett, que até na hora da sua morte pediu a  Scarlett que cuidasse de Aslhey como cuidou dela por ele, o que nos mostra que Melanie sempre soube do real desejo de  Scarlett por Aslhey e mesmo assim não deixou de admira-la.
Scarlett, reconhecendo esse amor, mostra no fim que, apesar de tudo que fez, sempre admirou Melanie por ela ajudar a todos sem querer nada em troca. Ao reconhecer isso, percebemos essa grande amizade entre as duas, porém isso ainda estaria longe de um grande romance. Então ainda continuamos com a questão de onde está o romantismo.
Percebemos com a frase de  Scarlett no fim "Irei para o meu lar e pensarei numa forma de tê-lo de volta!  Afinal, amanhã é um novo dia!" e debaixo de uma arvore ela lembra de seu pai falando do amor dos irlandeses pela terra, e percebe que tudo que fez foi por amor a Tara e que, apesar de ser uma terra que o vento levou, era lá que ela conseguia reerguer-se e de lá que tirava sua força. O grande romance do filme estava aí, no amor de Scarlett por Tara. 


20 junho, 2012

40 dias e 40 noites (Elaynne)


É, acho que dessa vez não vou ter muito o que dizer sobre o filme, mesmo.
Vejamos: um cara que decide passar 40 dias sem contato algum com mulher. Dá pra fazer um filme disso? E não é que deu? E não saiu um filme ruim, não. Até que foi um filme bonzinho. Engraçado, como deve ser. Com piadas diferentes, e também com as velhas piadas de filmes sobre sexo, namoro e juventude. Nada de extraordinário, nada fora do comum deste gênero de filme. É um filme bonzinho, que dá pra divertir, mas que eu não colocaria na minha lista.
Mas teve duas coisas que me chamaram a atenção nesta história. Primeiro é que eu nem imaginava que os quarenta dias eram a quaresma. Um período em que muitos cristãos (especialmente católicos) decidem abrir mão de algo que gostam muito, para relembrar os quarenta dias em que Cristo esteve no deserto, antes de começar sua missão. No caso, Matt decidiu abrir mão da vida que levava depois do fim do seu namoro com Nicole. Uma vida sem regras, onde o principal objetivo era curtir e pegar todas, mas que já estava começando a lhe fazer mal.
Olhando por este lado, no início não foi tão difícil assim para Matt abrir mão do sexo, já que ele estava começando a ficar paranoico. O que, a meu pouco entender, não é o objetivo do sacrifício da quaresma. Neste período, até onde eu saiba, você precisa abrir mão de algo que realmente vá lhe fazer falta, que você sinta ausência mesmo, não só nos últimos dias, mas em todos. Bem, posso estar errado, afinal não sou a melhor pessoa pra falar disso, mas imagino que deva ser assim.
De qualquer forma, eu tenho a minha própria visão de abrir mão das coisas em nome de Cristo, e vai bem mais além do que um período no ano. É mais profundo e mais compromissado, e renovado continuamente, durante os 365 dias do ano. Mas, é um entendimento pessoal, e se eu começasse a falar sobre isso aqui, ia acabar fugindo do tema do filme. Mas eu sempre me lembro do versículo (no livro de Samuel, eu acho), que diz: “Obediência quero, e não sacrifícios”. Tento lembrar dele sempre.
A segunda coisa que me chamou a atenção foi a abordagem dada ao amor de Matt e Érica. Nada de erotismo, de banalização do sentimento. Exatamente pelo voto feito por Matt, ele pode descobrir um outro lado do amor que até então ele não conhecia: o amor verdadeiro, que não depende de nada (principalmente sexo) para existir e para continuar existindo, depende apenas de você mesmo.
No mundo atual, o pensamento dominante entre os homens é que, se você me ama, então vamos fazer sexo. Se você não quiser fazer sexo comigo, é porque não me ama. Com as mulheres é parecido: se você me ama, vamos fazer sexo. Se você não quer fazer sexo comigo, ou não me ama ou é gay. Dá no mesmo. Eu diria que 98% das pessoas pensam assim.
Como se o amor pudesse se resumir a momentos de prazer físico. Nada disso. O amor é muito maior que sexo, o amor é maior que tudo. O amor é um sentimento perfeito, que implica pertencimento e comprometimento, implica em dar o melhor de si, dar a própria essência em favor da pessoa amada. O amor requer ação, porém a maioria das pessoas prefere o amor passivo (ser amado) que o amor ativo (AMAR).
Tudo isso é consequência da banalização não só do amor, mas também do próprio sexo. Sexo é ótimo, faz parte da natureza do ser humano, do nosso desejo. Fomos criados também para fazer sexo. Mas, sem amor, é vazio, oco, irracional. Não é aproveitado da mesma forma. Sexo com amor é perfeito. É como todo mundo deveria experimentar. Foi o que Matt experimentou quando conseguiu, finalmente, ficar com Érica. Após conhecê-la bem, conviver com ela por dias, desenvolver uma amizade bonita, ele sabia que a amava. E quando ficaram juntos, o momento foi muito melhor do que teria sido se eles tivessem feito sexo na primeira vez em que ele foi deixá-la na porta de casa.
Esta abordagem do filme, sim, valeu a pena, por fugir do que se vê normalmente em comédias românticas, que é muito sexo e pouco amor. Em “40 dias e 40 noites”, a gente vê o amor nascer entre duas pessoas, amadurecer, passar por provações e dificuldades e ainda assim se manter. Sem ser preciso o sexo entrar no meio. E depois que os dois entendem a força do amor que sentem, e que este sentimento é maior que qualquer outra coisa que eles possam viver juntos, ficam juntos aproveitando muito melhor aquele momento, tão esperado pelos dois.
Esperar. O mundo não está disposto a esperar nada. Tudo é urgente. Tudo é pra ontem. Nada pode ser pra daqui a pouco, ou para a hora certa. A hora certa é sempre agora. E na verdade, não é bem assim. Quando as coisas acontecem a seu tempo, na hora certa, no momento exato, chegam com um sabor melhor, com uma qualidade melhor. Esperar pelo amor pode até dar trabalho, a pessoa pode até perder as esperanças em determinado momento. Mas vale a pena. Sempre vale a pena. Posso dizer por experiência própria. Tem valido a pena ter esperado por você.




03 junho, 2012

Sweeney Toddy - O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (Carlos)


Nunca fui muito de assistir musicais, achava que eles seriam meios chatos, porém depois de "O fantasma da ópera", tive que rever meus conceitos e passei a enxergar com outros olhos. Até por isso não foi muito difícil aceitar a ideia de assistir Sweeney Todd , este também não é um musical chato, afinal as canções são bem executadas, não muito longas e bem intercaladas. 
O que me chamou atenção logo de cara foi a fotografia e a direção de arte do filme, até então não sabia que ele tinha ganho o oscar de melhor direção de arte, bem merecido, isso sempre foi uma característica marcante nos filmes de Tim Burton.
Voltando para o filme, para mim seria classificado como um terror. Claro, não é daqueles de dar medo, porém o que o faz semelhante a estes é o exagero de sangue e de mortes, e o que o diferencia da maioria dos filmes de terror é o fato de possuir uma historia e um motivo. Benjamin Barker, que usa o codinome de Sweeney Todd, volta a Londres buscando vingança , afinal o Juiz daquela cidade o tinha prendido e o mandado para outra cidade durante 15 anos só para poder ficar com sua esposa.
Mas ao retornar à cidade, Todd fica sabendo que sua esposa foi humilhada publicamente e ninguém da cidade a ajudou, e para se livrar desse tormento e não ter que ficar com o Juiz ela tomou veneno e o Juiz resolve então criar a sua filha em cativeiro para que futuramente pudesse se casar com ela. Esses são motivos suficientes para buscar essa vingança desesperada. Porém a vingança nos deixa cegos, e foi isso que aconteceu com Todd. O ódio tomou conta de sua vida e passou a ser para ele o único motivo para viver.
Ele ficou tão cego que não conseguia mais enxergar as pessoas como ser humanos, ele via apenas seus defeitos e por causa deles ele passou a ver motivo para matar cada um dos seus clientes e influenciado pela ganancia da Sra. Lovett, que queria ver seu restaurante voltar a ter sucesso, ele constrói um cadeira especial onde ele cortava o pescoço de seus clientes da barbearia e jogava o corpo direto no porão para Sra. Lovett usar sua carnes para fazer tortas.
Por causa dessa busca de vingança, ele foi incapaz de ir lutar pela sua filha que ainda estava sofrendo. Essa tarefa ficou para Anthony Hope, o marinheiro que levou Todd de volta a Inglaterra e acabou se apaixonando pela sua filha. Enquanto Anthony fazia de tudo para resgatar Johanna, Todd só se preocupava em matar mais e não procurou ajuda-lo quando este lhe pediu, e ainda mais no fim, foi capaz de usar sua filha como isca para o juiz Turpin.
Será que a vingança compensa mesmo? Todd ficou tão cego com sua sede de vingança que foi incapaz de ver e reconhecer o olhar de sua esposa, a qual ele afirmava que amava tanto, e dessa forma a sua vontade de se vingar vai ser a principal responsável por não ter sua família de volta e, consequentemente, a sua felicidade. O ódio que sentia foi maior que o amor e ao ver o rosto da mendiga ele só conseguia ver a vontade de matar o Juiz e mesmo depois que conseguiu o que queria ele ainda tomado pelo ódio foi incapaz de reconhecer o olhar doce e desesperado de sua filha e a confundiu com um rapaz a qual só não matou pois ouviu um barulho no porão.
O que podemos ver nesse filme é que toda ação motivada pelo ódio só leva ao sofrimento. Se Todd tivesse feito como Anthony, que agiu todo tempo por amor afim de tirar Johanna daquela tortura, ele provavelmente teria tido um final feliz como deve ter acontecido com Anthony e Johanna. 



14 maio, 2012

Noivo neurótico, noiva nervosa (Elaynne)


O bom de se assistir a um filme sabendo que é pra fazer uma crítica a respeito, é que você já fica mais atento aos detalhes, às cenas ou falas que chamam a atenção, e aos atores, pra poder ter o que falar. Mas confesso que, quando terminei de assistir a este filme, fiquei meio sem saber o que falar dele.
É mais que uma comédia romântica. É um filme cult. Com um humor inteligente e sarcástico. Assim como seu personagem principal, Alvy. Uma pessoa do meio artístico, do cinema e televisão, mas que se apresenta como alguém que não aprova o que é oferecido aos expectadores em seu tempo. É muito crítico, e suas críticas não são infundadas, pelo contrário. Ele critica com inteligência e sabe identificar os pontos fracos de seus "colegas" de profissão. Infelizmente, ele se sente obrigado a conviver com tudo o que ele desaprova, para se adaptar ao sistema.
Se na vida profissional ele consegue se adaptar ao sistema permanecendo em silêncio, não manifestando abertamente suas opiniões, na vida amorosa Alvy segue um rumo totalmente diferente. Não sabe ficar calado. Não sabe aceitar os defeitos de suas companheiras. É exatamente nesta área da vida que sua crítica feroz mais o prejudica. E nem os dezesseis anos de terapias foram capazes de mudar sua personalidade exigente.
Ora, um homem que já foi casado duas vezes e deixou um terceiro relacionamento se perder, deve ter algo errado. E, o que seria esse algo errado com Alvy? Sua personalidade insegura não combina com ser exigente dos outros. Ao mesmo tempo em que ele não tem certeza de muitas coisas a respeito de si mesmo, ele quer ter certeza absoluta em seus relacionamentos, e quer ainda que as pessoas com quem se relaciona tenham certeza a respeito dele mesmo. Assim não dá.
E pra piorar as coisas, acho que todos os anos de terapia acabaram lhe fazendo mais mal que bem. Afinal de contas, ele não fala coisa com coisa, e fala infinitamente, sem fazer pausas, sem tratar de um mesmo assunto por mais de cinco minutos. É uma pessoa complicada de se conversar. Talvez por ser tão inteligente, ele seja assim tão difícil. Quando se pensa que está falando de um assunto, de repente ele muda e passa a falar de outra coisa, e permanece assim o tempo todo.
De sua segunda esposa não dá pra falar muita coisa. Não tinha muito pra dar certo mesmo. Mas em relação à sua primeira esposa e à Annie, eram mulheres aparentemente perfeitas para ele, já que aceitavam suas manias e defeitos, se divertiam juntos e tinham inclusive muitos gostos e interesses em comum. Com a primeira esposa, ele quis prendê-la. Pensou mais em si mesmo que no casal, o que levou fatalmente ao fim do relacionamento.
Com Annie, não dava pra repetir o mesmo erro do primeiro casamento. E ele não repetiu. Relutou, inclusive, em receber Annie em sua casa, com medo de que parecesse um casamento e caísse na rotina. Ele tentou fazer as coisas diferentes. Recomendou até mesmo que Annie visitasse uma terapeuta, assim como ele fazia, pra ajudá-la com seus problemas pessoais.
E foi por tentar fazer diferente e, principalmente, por levar Annie a um terapeuta, que Alvy perdeu seu novo amor. Talvez seu único verdadeiro amor. Além dos defeitos de Alvy, foi a terapia que fez com que Annie mudasse um pouco seu modo de pensar e buscasse se sentir mais livre, mais disposta a correr atrás de seus sonhos pessoais. Sonhos estes que começaram a tomar forma com ajuda do próprio Alvy, que a incentivou a cantar em bares.
Ou seja, provavelmente no relacionamento em que mais acertou, Alvy perdeu a mulher que mais amou. É uma falta de sorte enorme. Mas de certa forma Alvy já estava preparado para aquela separação, considerando que já tinha passado por outras duas. Só que, mesmo preparado, ele não queria que acontecesse. Se esforçou para evitar a separação de Annie, e se esforçou também para conquistá-la de volta (do seu jeito, eu sei, mas se esforçou).
Mas Annie, apesar de todo o esforço de Alvy e do amor que sentia por ele, resolveu tocar sua própria vida. Talvez, se Alvy estivesse disposto a deixar Nova York, eles não teriam se separado. Ou talvez Alvy não ia conseguir se adaptar à nova vida social de Annie e terminaria o relacionamento mais tarde, não dá pra saber.
O que eu sei é que, num relacionamento, não dá pra pensar o tempo todo em você mesmo. Claro que você continua com seu amor próprio, mas tudo o que você vive e pensa em viver daí pra frente, tem que ser em conjunto. Os objetivos pessoais devem continuar a existir, mas é melhor que sejam compartilhados com seu companheiro, para que os dois se ajudem a atingirem seus objetivos pessoais e atinjam também seus objetivos enquanto casal.
Relacionamentos são complicados. Nem todas as pessoas são neuróticas como Alvy, ou nervosas como Annie. Mas todas têm seus defeitos, e se não se aprende a conviver com estes defeitos, aceitando que você também tem seus próprios defeitos e é uma pessoa difícil de se conviver, se isso não acontecer, o outro sempre será o culpado por tudo o que vier a dar errado. E num relacionamento, dificilmente há apenas um culpado quando algo não dá certo, a culpa é dos dois, assim como tudo o mais que um relacionamento envolve.
Finalizando, é um bom filme, mas não recomendo para todo mundo. Apenas para as pessoas que tenham o humor crítico e sarcástico o suficiente para compreender suas piadas inteligentes.
Ah, e o cara no telefone é realmente o Jeff Goldblum, que fez "A mosca".


02 maio, 2012

Vanilla Sky (Carlos)


Vanilla Sky é um filme bom, porém passa longe de ser um grande filme. É uma refilmagem do "Abre los ojos", que não assisti, por isso não posso fazer uma comparação. Mas pelo que li o original é bem melhor, mas claro que nao faria tanto sucesso pois não tem toda a grande produção do filme americano e nem todos grandes atores, principalmente Tom Cruiz. E o titulo do filme não tem nada a ver com a historia. Vanilla sky é um quadro que aparece no começo do filme que nao tem nada a ver com a historia, na minha opinião poderia procurar algo melhor também. 
Então, falando do filme em si. David é um cara que todo homem sonharia ser. Rico, bonito, bem-sucedido, tem uma amante linda e um trabalho que não tem nada de estressante. Num certo momento da sua vida ele conhece Sofia, pela qual se apaixona e acredita ser a mulher da sua vida. O interessante dessa relação é que eles decidem viver uma grande amizade e acabam não vivendo seu amor, vivem apenas o momento da conquista e esse, diga-se de passagem, é o melhor momento. 
Eles resolveram adiar o prazer, tudo daria bem certo entre eles se nao fosse o ciume doentio de sua amiga Julie, que decide atirar o carro de uma ponte em alta velocidade com David. Ela morre e ele fica totalmente desconfigurado. Exatamente o que ele tinha tanto orgulho que era sua beleza e seu poder de sedução ficaram destruidos e ele se entrega a uma vida solitaria, com vergonha da sua nova figura, até que decide recontruir sua vida e procura de novo, o seu grande amor.
Porém a sua insegurança e seu medo destruiram o sentimento de Sofia. Ela talvez nao ligasse para o seu rosto, porém o seu comportamento foi que afastou eles. E de repente ele acorda e sua vida muda completamente. Ele passa a viver um grande amor, o médico consegue curar seu rosto e sua vida volta ao normal. Seria um sonho... "Abra os olhos"... Só que esse sonho começa a se transformar em pesadelo e ele começa a se ver condenado a um crime que nem sabe se cometeu.
E é assim com nossas vidas também, muitas vezes tentamos viver num mundo de sonhos onde buscamos que nossas vidas sejam do jeito que a gente quer, e esquecemos de olhar para os outros. O problema é que a vida não pode ser um sonho eternamente e, se pensarmos dessa forma, ela pode virar um pesadelo, pois sempre vai acontecer algo que não está nos nossos planos. David era assim, não podia aceitar que sua vida fosse diferente daquela perfeição e por não aceitar isso acabou se submetendo a uma experiencia que ele considerava a melhor, ele resolveu fugir da realidade.
Claro que hoje não existe esse sistema, porém existem muitos outros recursos que as pessoas usam para fugir da realidade, e assim com David no começo pode ser uma maravilha, mas no fim se tornará um pesadelo, porém o melhor a fazer é nos preparar sempre para a vida e viver o que nos é possivel viver. Devemos sim correr atrás dos nossos sonhos, porém dentro daquilo que nos é possível.
O fim do filme nos esclarece tudo, esse talvez tenha sido o pior erro, pois ele esclarece tanto que não nos deixa com o suspense e a dúvida. Não tem o que entender pois ele explica tudo. Pelo que li, "Abre los ojos", não deixa isso tanto a vista e se for assim mesmo ele é melhor.
Enfim, é um filme que teve muita produção, porém pecou muito em alguns fatos. Talvez o diretor tenha sonhado muito alto. 
E no fim o que fica do filme é a mensagem que o amigo de David disse para ele quando conheceu Sofia: "O doce não é tão doce, quando se prova o amargo." 



14 abril, 2012

Amnésia (Elaynne)


Como eu lhe falei, estas críticas não são para explicar o filme, e sim para falar dele. Então, se você espera que eu dê alguma explicação sobre o filme, pode esquecer. Até porque eu não explicaria este filme nem que eu quisesse. É um filme que não é pra ser entendido. Pelo menos não na primeira vez em que você assiste. Pra entender o enredo, a trama, é preciso reassistir ao filme pelo menos umas duas ou três vezes.
E ainda assim, você não vai entender tudo. Ainda ficarão dúvidas no ar. Tudo pela maneira original e brilhante como o filme foi editado: de trás pra frente. Tem como dar certo isso? Onde é que já se viu, assistir a um filme do fim para o começo?? Mas... e não é que deu certo mesmo???
A primeira coisa que me chamou a atenção neste filme você já sabe qual foi: o diretor, Christopher Nolan, responsável pelo sucesso da trilogia Batman Begins. Só em saber que este era o diretor, já imaginei que Amnésia seria um filme bom. E não me enganei. Amnésia é um daqueles filmes que fazem sucesso no boca a boca, ou seja, no público, mais do que na crítica. Afinal, um roteiro tão interessante merecia ter uma indicação ao Oscar.
Quanto à Leonard, o que dizer dele? Sentiu na própria pele o preconceito que ele mesmo mostrou com Sammy. Passou a sofrer com o descrédito, desconfiança e falta de caráter das pessoas. Que tipo de pessoa tiraria proveito de uma pessoa na situação dele, com o problema dele?? Pelo jeito, muitas pessoas. Aquelas que tinham problemas a serem resolvidos e não queriam se sujar. Aquelas que querem ter alguém que faça o trabalho sujo em seu lugar.
Neste ponto, Lenny era perfeito. Poderia fazer o que quisessem, pois sempre estaria agindo em nome da sua própria honra, e da sua esposa. Estaria agindo em nome da “justiça”. E depois, não iria carregar aquela mágoa, aquele trauma e sofrimento pelo resto da vida. Em menos de 15 minutos, ele esqueceria tudo e partiria para uma “nova” vingança, que sempre era a mesma.
Pra ser bem sincero, não é preciso ter perda de memória recente para encontrar aproveitadores em todos os lugares. Pessoas que se aproximam de você porque querem tirar de você o máximo possível, querem sugar sua vitalidade, alegria, autoconfiança, bom humor, ou seja, tudo de bom que você tem e que elas não têm. E quando não dá mais pra sugar nada, te abandonam, te deixam à própria sorte.
O pior, neste tipo de pessoa, é que elas se apresentam extremamente agradáveis, se identificam com seus problemas e, em alguns casos, até passam ou já passaram pelas perdas e frustrações as quais você já passou. Natalie é uma pessoa desse tipo. Perdeu alguém que gostava, e usou isso para que Lenny se identificasse com ela e acabasse matando a pessoa que, TALVEZ, foi a única que tentou ajudá-lo de verdade: Teddy.
Mais como nem tudo neste filme é o que parece, eu disse TALVEZ. Pois, com o desenrolar dos fatos, com a história do filme se aproximando do início, percebe-se que Teddy não estava tão interessado assim em ajudar Leonard. Afastar Lenny de Natalie pode ter sido a única coisa boa que Teddy tentou fazer. No mais, tudo o que ele fez foi se aproveitar do problema de Leonard, como todo mundo.
E por se aproveitar tanto de Leonard, Teddy acabou cavando a própria cova, pois em um momento onde tudo foi revelado, Lenny forjou a prova de que Teddy seria o Jhonny G. a quem ele tanto procurava. A placa do carro de Teddy tatuada em seu corpo o levou a matá-lo, acreditando que Teddy fosse o assassino de sua esposa. Teddy também caiu na própria armadilha.
O que me faz pensar o seguinte: se o filme fosse contado de onde começou em diante, e não pra trás, provavelmente Natalie teria o mesmo fim que Teddy. Por se aproveitar de Lenny, em algum momento ele conseguiria anotar algo que ela fizesse de ruim, e criaria também uma prova contra ela, e Natalie seria mais uma a morrer pelo assassinato da esposa de Lenny. Quem vai saber?
A única coisa que se pode saber, com certeza, é que viver sem memória é viver escravo de aproveitadores, de anotações, fotos, de um modo de vida sistemático que, no dia em que você fugir dele, você se perde. Viver sem memória é viver uma vida sem história. E o que seria de nós se não tivéssemos histórias pra contar, “causos”, situações, lembranças boas e ruins. É todo este conjunto de lembranças vivas em nossa mente que nos torna seres humanos, que nos faz agir por vontade, por desejo, por emoção e por razão, não apenas por instinto. Como diz o profeta Jeremias, no Livro das Lamentações, cap. 3, vers. 21: “Quero trazer a memória aquilo que me dá esperança”. Ter o que lembrar, ter o que comentar com alguém, é o que nos dá esperança de viver um novo dia para ter novas histórias, para que possamos nos renovar.
Uma vida sem memória é uma vida apagada. Quase uma inexistência. Porque viver se tudo o que você faz desaparece em 15 minutos?
A vida de Lenny é assim. O filme explora bem isso. Como Teddy falava sempre para Leonard, “você nem sabe quem você é agora, quem você se tornou depois do acidente”. E era verdade. Lenny não sabia quem era, quem poderia ser um dia. E no fim do filme (ou no começo) Lenny fica inclusive em dúvida de quem ele foi antes do acidente. Seria ele mesmo Leonard Gelby, um investigador de uma seguradora, ou seria tudo isso fruto de sua imaginação? Perguntas sem respostas. Melhor deixar assim mesmo. Dá ao filme um ar de inacabado. E faz com que seja uma obra brilhante.


04 abril, 2012

Doze homens e uma sentença (Carlos)


Quanto do nosso tempo vale a vida de alguém? Essa talvez seja a primeira pergunta que fazemos ao assistir "Doze homens e uma sentença". O filme já começa com os 12 homens que compõem o júri, pessoas comuns que não se conhecem e nunca se viram, entrando numa sala para se reunir e decidir pela condenação ou absolvição de um jovem porto riquenho de 18 anos à pena de morte por ter possivelmente matado seu pai. Não nos é mostrado o que aconteceu no julgamento e nem a morte.
Já reunidos vem a grande pergunta para o grupo: inocente ou culpado? A maioria começa a levantar a mão o condenando, então um por um vão levantando aos poucos até completar 11 com as mãos levantadas, porém o que chama mais atenção nessa parte não é o fato de um não levantar, mas sim que alguns daqueles homens não tinham a certeza se ele era mesmo culpado, porém dois motivos os levavam a votar: o primeiro era a vontade de ir embora logo e se livrar daquilo, como tinha que ter unanimidade melhor ir com a maioria afinal eles tinham outros compromissos; o segundo é o medo que temos de contrariar, isso nos leva na maioria das vezes a ir com a maioria só por medo de argumentar e de ser mal visto pelos outro. Percebe-se nessa hora como o idoso olha para todos e levanta o braço timidamente. Na certa ele se encaixou bem nesse segundo motivo.
Como não houve unanimidade logo de primeira, afinal Davis levanta a mão inocentando-o, os outros que queriam ir embora logo e nem ligavam para o que estava acontecendo protestaram e quiseram discutir logo. Todos expuseram seus  argumentos e à medida que falavam a gente também pensava: "como pode esse homem o achar inocente?". O problema é que Davis não o achava inocente, apenas queria discutir mais, pois achava que a vida daquele jovem não poderia ser decidida assim em um minuto sem discussão. Então Davis começa pouco a pouco a mostrar o que poderia estar errado naquela prova apresentada, e o primeiro a se convencer da inocência do jovem é exatamente o idoso que mal levantou a mão, o que só demonstra que ele precisava de mais alguém para o apoiar.
Percebemos ao longo da discussão a característica de cada um: temos o idoso que sofre por não ser escutado, temos o tímido, o intelectual, o imigrante, o preconceituoso, o que sofre com o descaso do filho, o que só pensa em assistir beisebol e assim por diante. E percebemos como podemos deixar que nossas características nos levem a julgar as pessoas  apenas pelas suposições e por nossos conceitos adquiridos. Como não queremos pensar quando o assunto é o outro.
Aos poucos todos vão se convencendo da inocência do jovem. Eles vão vencendo seus preconceitos e arrogância. Mas será que o jovem era mesmo inocente? Se no começo achávamos com certeza que ele era culpado, no fim, como os jurados, acabamos nos convencendo também da sua inocência. O diretor inteligentemente não nos diz a verdade e o suspense prevalece até depois do filme, afinal o importante não era saber se o jovem é culpado e inocente e sim mostrar como podemos decidir em grupos, onde todos são bem diferentes e pensam diferentes, todos têm que ser escutados, todo argumento tem que ser respeitado, todos têm que deixar de lado seus orgulhos, todos têm que expressar sua opinião sem medo.
Uma parte que chama a atenção durante a discussão é quando alguém pergunta a Davis por que o advogado do rapaz não questionou as provas assim como ele. E a resposta infelizmente é a verdade, afinal provavelmente era um advogado de defesa publica que não ganharia grande status pela aquela causa e já a considerava perdida. E fica a grande questão sobre a advocacia no mundo. O que vale mais para um advogado: status e dinheiro ou a vida do ser humano? Por que alguns advogados por milhões inocentam culpados e não se esforçam para livrar inocentes?
E claro que não poderia deixar de citar o fato curioso do filme, pois ele se passa praticamente todo numa pequena sala, apenas uma cena no começo do filme, uma no final e duas no banheiro não ocorrem lá, o que mesmo assim não deixa o filme monótono.



25 março, 2012

Prenda-me se for capaz (Elaynne)

Se tem uma característica que admiro em qualquer ser humano é a criatividade aliada à inteligência. Na minha opinião, estes fatores somados tornam qualquer pessoa diferenciada. É exatamente o caso de Frank Abagnale Jr. Ele é inteligente. E não molda sua inteligência ao sistema, não se submete ao comum. Ele inverte a ordem das coisas, e adapta o sistema à sua criatividade e inventividade.
Desta forma, ele, apesar de ser um ladrão, falsário, estelionatário, não se torna em momento algum o vilão da história. Ninguém que assista a este filme vai torcer contra Frank Abagnale. Ninguém quer vê-lo preso. Queremos vê-lo, sim, desafiando o sistema, burlando as regras. Queremos vê-lo fazendo o que nós, muitas vezes, temos vontade de fazer, mas não temos a devida coragem, porque temos medo das consequências. Digamos que a nossa covardia e acomodação são os motivos que nos levam a torcer a favor de Frank, a vibrar e se admirar em cada empreitada nova onde ele obtém sucesso.
E como ele teve sucesso!!! Simplesmente porque ele não teve medo. Ele ousou, e numa velocidade jamais vista. Não é todo mundo que tem no currículo, aos 19 anos, milhões de dólares em cheques falsificados, um curso de medicina em Harvard e uma aprovação no exame de ordem para exercer advocacia. Além, claro, da experiência como co-piloto de uma das maiores companhias de aviação do mundo. Não é todo mundo, mesmo. E tirando a aprovação no exame de ordem, que ele conseguiu por méritos próprios, o resto ele conseguiu burlando as regras, criando novas soluções, por assim dizer.
Frank Abagnale é, como costumamos dizer, o cara. Depois de assistir a este filme, aquela máxima de que “o crime não compensa” perde um pouco o valor. Afinal, a sua vida de crimes lhe rendeu frutos excelentes e invejáveis durante a época em que roubava. Tanto para ele quanto para sua família. A família que era sua principal meta quando começou esta vida. Pode-se dizer que ele tinha um motivo nobre: restaurar o padrão que sua família tinha anteriormente, e o principal, re-unir sua família, seu pai e sua mãe. Uma parte do objetivo ele até teria conseguido, se seu pai não tivesse rejeitado o Cadilac. Mas, se não foi, não era pra ser. A vida lhe levou por outros caminhos, que ele nem imaginava. Duvido que em algum momento ele sequer tenha cogitado a possibilidade de trabalhar no FBI, ajudando a prender criminosos como ele. 
E não é que foi exatamente isso o que aconteceu?? De certa forma, ele passou a ser pago por quem ele mais roubou, o Estado. Aquele que tanto o perseguiu agora seria seu patrão, seu chefe. E uma pessoa como Frank se submete a alguém? É, se submete sim. Chega uma hora na vida em que tudo o que a pessoa quer é fugir de uma vida de agitação e passar a viver uma vida comum. Mesmo a mais diferente e agitada das pessoas passa por este momento. Chegou a vez de Frank se adaptar ao sistema.
E tudo isso se torna mais surpreendente ainda sabendo se tratar de uma história real. Aconteceu mesmo. Se fosse apenas mais um filme sobre ladrões, temos muitos onde a turma de roubos incríveis se dá bem. Esta história é diferente. São personagens da vida real. A vida real proporciona histórias incríveis como esta o tempo todo. Nem todas são trazidas para as telas, e nem com tanta perfeição como foi Prenda-me se for capaz. É um filme incrível!! É uma história inacreditável, mas é real.
E no fim, ele foi preso. Ficou sem saída. O trabalho de Carl foi feito. Que chato!!! Que sem graça. Ou não? Foi graças a isso que ele conseguiu fazer um trabalho “normal”, aceito pelas pessoas. Não sei se era isso mesmo que ele queria, acredito que não. Mas era preciso. Não dava pra passar a vida inteira fugindo e falsificando. Dá trabalho. Chega uma hora que a pessoa quer descansar, sair do risco e ter algo mais seguro.
O mais importante é que, mesmo sem ter a mesma emoção e adrenalina de antes, ele poderia exercer seus conhecimentos e suas habilidades. Mesmo adaptado ao sistema, sua inteligência diferenciada não se perderia, ao contrário, seria bem aproveitada. Os seus crimes foram o motivo de sua contratação. E alguém tem dúvida de que ele deve ter se tornado um dos melhores na sua área de atuação no FBI? Não tenho dúvidas de que ele foi brilhante no trabalho assim como foi brilhante roubando. Afinal, pessoas diferenciadas permanecem assim onde quer que estejam.



17 março, 2012

À espera de um milagre (Carlos)

Esse é um filme que sempre tive medo de comentar, por ser um dos mais complexos que acho. É um filme que posso ter assistido no mínimo umas sete vezes, mas toda vez que vejo me impressiono mais. Falar de milagre é sempre muito difícil, afinal o que é milagre? Para mim milagre é tudo aquilo que nos faz feliz... Para um casal, por exemplo, o nascimento do filho é um milagre; para um doente é a cura; para quem sofreu um acidente sair ileso é um milagre; para um desempregado um trabalho; para um condenado a liberdade... E para Deus com certeza cada um de nós é um milagre, nossa vida é um milagre, dessa forma qual o direito que temos de destruir um milagre de Deus?
Stephen King , escritor do livro o qual Frank Darabont adaptou para filme, aborda esse assunto de uma forma bem especial e sutil. Ele consegue falar de vários temas que rodeiam o milagre. O primeiro deles é a pena de morte e, como falei anteriormente, se somos milagres de Deus ninguém, por motivo algum, tem direito de tirar isso. Pena de morte sempre é um tema muito polemico devido a natureza vingativa dos homens. É muito difícil para nós perdoar alguns atos. Porém em Mt 5, 38-39 Jesus diz " Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu porem vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra" E Ele não só falou, Ele fez muitos atos que mostraram que Ele era capaz disso.
E nós, será que somos capazes de fazer tanto? Por que então ainda se discute a pena de morte? Por que não seguir esse belo ensinamento?... Infelizmente muitas vezes nosso instinto de vingança e justiça fala mais alto. No caso do filme esse tema foi mostrado de uma forma bem diferente do que estamos acostumados a ver, em vários momentos chegávamos a torcer pelos condenados, afinal eles conseguiam mostrar uma gentileza maior que a do soldado Percy. Delacroix nos fazia rir com o seu ratinho Mr. Jingles. Não era necessário para nós saber que crime aquelas pessoas tinham cometido, o momento que eles viviam era outro. Talvez dessa forma ficou mais fácil para nós vê-los como "heróis" e assim nos mostrar que as pessoas são capazes de se arrepender e mudar, e assim nos perguntar: que justiça é essa que não oferece uma segunda chance? Até onde somos capazes de julgar a ação das pessoas?
Temos naquele corredor Jonh Coffey, um homem que pela aparência todos julgariam como culpado, um homem alto, forte e negro... foi com essa aparência qu ele foi condenado, mas ao passar do filme, suas ações nos fazem pensar se ele realmente foi capaz de estuprar e matar 2 crianças. Um homem que chora, que tem medo do escuro, que é gentil, que ajuda os outros... esse é o dilema de Paul e essa duvida perdura até a hora que ele descobre a inocência de John e aí vem a outra duvida dele: cumprir ou não com o seu dever? E alem disso tudo Jonh ainda o curou e salvou também a mulher de seu amigo. Paul tinha uma divida com ele.
E então chegamos a mais uma questão da pena de morte, como iremos saber se estamos condenando pessoas inocentes? Pessoas que como Jonh só faziam o bem. Não temos essa capacidade de julgar os outros. Paul, na sua dúvida, chega a perguntar para sua mulher: "o que irei falar para Deus quando encontrá-Lo no julgamento final, que matei um de seus milagres?" Esse deveria ser o pensamento de todos antes de tirar a vida de alguém, todos deveríamos ver os outros como milagres de Deus independente de qualquer coisa.
Outro tema que é abordado é a questão do medo no personagem de Jonh. Podemos ver isso bem presente, afinal um homem alto e forte como ele iria te medo de quê? E pelo contrario ele parecia uma criança indefesa com o medo de ficar só no escuro. O medo também está presente no soldado Percy, que se sentia forte e arrogante com sua farda, mas bastou uma ameaça maior de um prisioneiro que veio à tona a sua fraqueza e ele chega ao ponto de mijar nas calças.
Vemos ainda o medo da morte exposto no rosto daqueles prisioneiro condenados e até o medo de não morrer expressado por Paul no final do filme. O medo da doença com Sam quando recebeu o diagnostico que sua mulher tinha um tumor no cérebro, enfim o filme mostra que não importa o nosso tamanho, o nosso distintivo, a nossa arrogância, a nossa bondade... todos sempre temos medo de algo e que sempre nas dificuldades da vida ela acaba aparecendo, cabe a nós mostrarmos a força nessa hora.
O filme aborda também a questão da imortalidade, uma busca insensata do ser humano. Cristo já prometia a vida eterna para quem o seguisse e isso foi e ainda é o que move muitos cristãos, acontece que o homem como sempre desvia o real sentido de Deus e busca desesperadamente meios de prolongar a vida, não envelhecer nunca, enfim, busca a vida eterna aqui na terra. Paul ganhou esse “presente” de Jonh e viveu mais que o normal, mas Paul acaba percebendo que isso não foi bem um “presente” e passa até a considerar como castigo de Deus por ter condenado à morte um de seus milagres, pois ele acaba vendo todas as pessoas que ama morrer e os novos amigos que faz também. O único que o acompanha é Mr. Jingles, que também recebeu esse dom de Jonh, mas que por ser um rato é provável que morra antes dele também. Então qual seria a vantagem de se buscar essa imortalidade aqui na terra?
Não se poderia falar de imortalidade sem se falar de morte e como o filme se passa num presídio onde vivem prisioneiros condenados à morte esse tema esteve bastante presente e com cenas até bem fortes, como foi a morte brutal de Delacroix, onde Percy não molha a esponja, ficamos durante uns 3 minutos angustiados desejando como expectador que aquele momento acabe logo. Paul e todos os outros soldados do presídio (menos Percy), tinham uma sensibilidade muito grande com aqueles condenados pois queriam dar pelo menos um pouco de otimismo para aqueles que não tinham mais nenhuma esperança.
Eles chamavam o corredor que dá acesso a cadeira elétrica de “milha verde” devido a sua cor e sempre que um dos prisioneiros eram condenados eles proporcionavam o seu “grande momento” como a apresentação de Mr Jingles e uma das cenas mais emocionantes que é o filme assistido por Jonh, seu primeiro filme, no qual ele chora emocionado e nos mostra que a sensibilidade não é sinal de fraqueza e sim de grandeza. Como Paul disse “todos temos nossa milha verde” então devemos sempre buscar nossos sonhos por mais simples que possam parecer, pois são eles que nos dão otimismo e esperança para seguir em frente.
Por fim termino como comecei, falando de milagre. Jonh tinha um dom extraordinário, ele era capaz de curar as pessoas, de tirar o que elas tinham de ruim e colocar para fora... E foi por causa desse dom que ele foi parar na prisão e foi com ele também que ele conseguiu a admiração de todos ali. Mas por que o autor escolheu um negro, simples e analfabeto e escolheu também um corredor da morte o lugar para ele mostrar seus dons? Talvez a mensagem seja simples: o milagre pode acontecer em qualquer lugar, através de pessoas que não esperamos e nas situações menos prováveis, basta a gente ter a sensibilidade de vê-lo.


05 março, 2012

Menina de ouro (Elaynne)

Menina de ouro é um filme incrível. Não são todos os filmes que fazem você sair com raiva, com ódio, até, de um personagem. Menina de ouro consegue esta façanha. Faz você odiar uma pessoa como se fosse alguém que existe de verdade.
Este filme merece ser analisado em partes. A primeira, o início da história. Um homem isolado do mundo, abandonado pela família, que se relaciona unicamente com um ex-companheiro do boxe. E ele é bom. É um excelente treinador. Sabe tirar o melhor de seus discípulos. Sabe explorar bem o potencial dos alunos de sua academia. Mas tem medo. E este medo ele passa a seus alunos na forma de sua principal lição: ANTES DE TUDO, SE PROTEJA. Frankie Dunn é alguém que se protege. Que se resguarda de seus sentimentos. Que tenta de alguma forma se aproximar da filha distante, mas não o suficiente.
Por ser treinador de boxe, Frankie é acostumado a lidar com pessoas teimosas. Seu único amigo, Scrap, é prova disso. Mas ele não estava preparado para a teimosia de Maggie.
Maggie tem um dom. Muitas pessoas aprendem o que fazem. Maggie foi apenas lapidada. Ela já sabia lutar, já sabia bater. Ela lutou durante toda sua vida, com uma família que a desprezava, que desprezava seu dom, que ria na sua cara. Ela lutou e venceu. Ela lutou com Frankie, até convencê-lo a ser seu treinador. Ela lutou e venceu. De novo. Maggie era uma vencedora.
E com a ajuda de Frankie, Maggie se tornou a maior vencedora. Carismática, conhecida. Se tornou “Ma cushie”, a querida do público. Todos gritavam seu nome. Todos torciam por ela. Todos sabiam que ela poderia ir além. Maggie parecia não ter limites. Até lutar com a Ursa azul. Uma mulher que sabia lutar, mas não sabia perder. Ela com certeza não conhecia a frase que o sr. Scrap usou para consolar o garoto Danger: Qualquer um pode perder uma luta.
É verdade. Qualquer um pode perder. Mas ganhar? Só quem é realmente bom. Quem é incrível. E lidar com as vitórias? Só quem sabe o valor da vitória. Quem recebe a vitória de mão beijada, sem esforço, sem luta, não dá valor. Ursa azul era assim. Maggie não. Por isso ela comemorava cada vitória como sendo única, como sendo a primeira. Com o passar do tempo, as pessoas acabam por perder o ânimo de vencedores. Acabam se conformando e desistindo de tentar. Maggie não era assim. Ela não desistiu. Ela tentou. E em suas próprias palavras, ela “mandou bem”.
Até onde deu. Chegou uma hora e uma circunstância em que não deu mais. E aí entramos na segunda parte da análise. Maggie tentou, não perdeu o bom humor jamais. Resistiu e insistiu. Em todos os momentos, ela jamais se passou por coitadinha. Não aceitou sentimento de pena de ninguém. E nem dava pra sentir pena de Maggie. Mesmo no leito do hospital, respirando apenas com a ajuda de um aparelho, mexendo apenas com os olhos e a boca, Maggie ainda era uma vencedora. Sua expressão não mudou com o sofrimento. Seu sorriso bonito continuou iluminando a vida sem graça do treinador Frankie, o chefe.
E Frankie também não desistiu de Maggie. Ele insistiu com médicos, procurou outros hospitais, dedicou seu tempo e seus esforços para tentar recuperar Maggie, até onde pôde. Não me parece que ele tenha se esforçado tanto assim para manter sua família. Tinham as cartas que ele enviava para a filha, mas só. É pouco. Era preciso mais, e se ele tivesse feito esse “mais”, provavelmente teria a companhia da sua filha, e não seria um velho solitário.
E se ele tivesse feito esse “mais”, provavelmente também Maggie não seria tão importante para ele como foi. Maggie fez a diferença na vida de Frankie, enquanto lutava e quando deixou de lutar. A partir do momento em que decidiu ser seu treinador, Frankie viveu para fazer de Maggie uma vencedora, para não deixá-la desistir. E conseguiu.
Mas nem Frankie nem Maggie estavam preparados para aquele acidente. Maggie, no entanto, estava feliz, e tinha a sensação do dever cumprido. Deu uma oportunidade de vida melhor pra sua família. Lutou e venceu, apesar da idade, apesar das condições. Teimou. Insistiu. E realizou seus sonhos. Já tinha vivido o suficiente para ver seus desejos se tornarem realidade.
Portanto, o pedido de Maggie não é algo tão inacreditável assim. Maggie viveu intensamente desde que começou a treinar com Frankie. E ali, naquela UTI, ela não vivia mais. As pessoas têm medo de morrer, mas principalmente de viver, e acabam morrendo sem ter vivido. Maggie queria morrer porque tinha consciência que tinha vivido. Não precisava conseguir mais nada. E, como disse Scrap, suas últimas palavras provavelmente seriam: “eu fui bem, não fui, chefe?”
Gostei da escolha, morzinha. Se eu já tivesse assistido antes, este filme também estaria na minha lista.


26 fevereiro, 2012

Gênio indomável (Carlos)

Dessa vez não vou falar de Robin Williams apesar de mais uma vez ele ter feito um papel brilhante. Porém Matt Damon merece todas as considerações: um ator jovem pegando um papel tão complexo e conseguir dar uma vida a ele de uma forma tão real, além disso tendo que contracenar com grandes estrelas, uma missão difícil, mas que ele tirou de letra.
Will Hunting nasceu com um dom, resolvia problemas que grandes matemáticos demorariam anos, porém era um rebelde, vivia preso, tinha problemas... até ser descoberto pelo professor que tentou ajudá-lo, porém com interesses e também por inveja .eEe vivia dizendo que Sean McGuire era um fracassado por não ter um grande prêmio, porém ele era o grande fracassado, não conseguia viver quando descobriu Will, um rapaz sem estudos que conseguia ser mais inteligente que ele. Ou seja, ele sabia ser o grande poderoso na sala, mostrar para seus alunos que ninguém era capaz de ser tão inteligente que ele, até descobrir esse gênio, e no fim esse menino indomável consegue mostrar isso para ele. Nunca devemos nos achar melhor do que ninguém.
Will,depois de descoberto, recebeu várias propostas de trabalho de grandes empresas, com grandes salários, ou seja,  tudo que um pedreiro sempre sonhou. Porém para Will não. Ele ia dispensando um por um, e em um de seus dias de consulta McGuire pergunta o que ele quer fazer. Pergunta difícil essa né... muitos de nós não sabe responder, ficamos perdido entre varias profissões sem se satisfazer.
Chuckie fala com Will que qualquer um daqueles pedreiros dariam tudo para ficar no lugar dele, e ainda diz que a sua maior alegria seria o dia em que ele batesse em sua porta e ele não estaria mais em casa. Uma grande prova de amizade, pois ele sabia que seu amigo tinha uma grande oportunidade pela frente e talvez uma dessas oportunidades lhe daria a felicidade que todos queremos. Outra prova de amizade, é o presente que ele e mais dois amigos dão para Will, um carro montado por eles mesmos, afinal eles não tinham condição de comprar um carro novo, mas são nos pequenos gestos que estão as maiores provas de amizade.
Porém o que mais me chamou  a atenção nesse filme não foi a bela atuação, nem o belo roteiro, nem o fato de um jovem pobre sem estudos ter uma inteligência acima da média. O que mais chama a atenção são os diálogos entre Will e  McGuire, é uma verdadeira lição de amor. O jeito que McGuire fala de sua esposa  e do amor é de contagiar. Uma parte que guardei bem foi quando ele diz que os pequenos defeitos se tornam as maiores qualidades, para mim esse é o grande segredo de uma relação feliz, saber conviver e até rir com os defeitos do seu parceiro, ninguém é perfeito porém não é por isso que precisamos fazer dos defeitos um motivo para brigar.
Outra lição que ele deixa é quando ele conta do seu primeiro encontro com sua esposa e fala que perdeu um grande jogo para poder conhecer a mulher de sua vida e que não se arrependeu, lição essa que seu aluno aprendeu muito e foi capaz de largar um emprego milionário para correr atrás de seu amor. Afinal não podemos nos arrepender de coisas que nos deixam feliz, e para isso basta uma decisão e que um dia todos temos que tomar, é um momento difícil, porém se a decisão for a certa vamos colher frutos durante o resto da vida, por esse momento eu tive que passar e se um dia alguém me perguntar se me arrependo de alguma coisa posso dizer como McGuire... eu me arrependeria se não pudesse ter tido a chance de te conhecer, enfim se hoje sou feliz é em grande parte por sua causa.



15 fevereiro, 2012

Requiem para um sonho (Elaynne)

Que diabos de filme é esse? Nunca ouvi falar.
Esse foi meu primeiro pensamento quando você colocou este filme na lista.
Que diabos de filme é esse, e como é que eu nunca ouvi falar? Este foi meu pensamento quando terminamos de assistir o filme.
E que filme. Intenso, pertubador, intrigante, incômodo. São características que lhe caem muito bem. A maneira como foi filmado, com um trabalho de edição bem mais exigente, que dá ao filme um ritmo acelerado, eletrizante, alucinado, encaixou muito bem com o tema do filme.
Drogas. É este o tema do filme. A vida sob o efeito de drogas. Drogas, aqui, não são apenas entorpecentes, mas qualquer tipo de objeto, coisa, pensamento, que nos transporte da realidade para um mundo paralelo, que assuma em nossa vida uma importância maior que as pessoas que estão a nossa volta e a quem nós amamos, ou ainda que assuma uma importância maior que nossa própria vida, é uma droga. Em todos os sentidos pejorativos que esta palavra possa ter.
É claro que ele fala sobre drogas, drogas mesmo. E explora muito bem a vida de um viciado, do auge à decadência. Mas o filme vai além. Explora os desejos dos viciados. Antes de se tornarem meros drogados, viciados em drogas são seres humanos. E como todos, possuem projetos de vida, traçam metas, planejam o futuro. Como cada um de nós, eles também têm sonhos. A sociedade os marginaliza, os abandona, os criminaliza, mas esquece de procurar os motivos que os levaram a essa vida, o que eles buscavam, quais eram seus sonhos. Harry tinha sonhos. Marion também. E quem se importou? Eles foram usados para traficar, para dar prazer. Quem manda no jogo dita as regras. E se ninguém da sociedade interfere neste jogo, os seus personagens com menor importância se submetem a tudo, acreditando que com o tempo vão ter sucesso, serão os senhores do jogo também.
A sociedade se considera melhor que eles. Mas e nossos vícios particulares? E aquilo que temos e não conseguimos nos libertar? Aquele chocolate, um bom refrigerante, uma bebida, a televisão, jogos, o trabalho, um sono sem fim, o medo, a ansiedade, as preocupações, a vaidade. Quantos vícios temos, que nos prendem, nos dominam, e nós não admitimos. Acreditamos estar no controle da situação. Não somos tão diferentes dos viciados em drogas, somos?
Estes vícios também foram explorados no filme, de maneira brilhante. Quantas Sarahs conhecemos por aí, que não podem passar um dia sem assistir determinado programa de televisão? Ou ainda, quantas pessoas estão ao nosso redor e buscam meios fáceis de perder peso, pela pressão da mídia. E como bem mostrou o filme, isso vira uma bola de neve. Remédios para emagrecer tiram o sono, e te levam a tomar remédios para dormir, e com o tempo perdem o efeito, e você passa a querer mais, e o mais já não é suficiente. Coisa de filme? Não. Realidade.
Claro que quem vive nesta situação dificilmente admite que precisa de ajuda. A sensação de estar no controle só vai embora quando a razão também vai embora. Alucinações, tensões, medos passam a fazer parte do dia a dia. E é tudo junto, de uma só vez, e num ritmo frenético, da forma como é retratado no filme.
Cada um tem dentro de si uma droga, um vício. Cabe a nós decidir alimentar este vício ou deixá-lo adormecido. Nossos sonhos chegarão a se tornar realidade um dia? O que será dito sobre nós ao fim de nossa vida?



02 fevereiro, 2012

Sociedade dos poetas mortos (Carlos)

Começar falando de Robin Williams pode até ser considerado um clichê, afinal todo papel que ele faz é um sucesso e, com Jonh Keating, não poderia ter sido diferente. Um professor de literatura com uma tarefa muito dificil, talvez até impossível... Espalhar esperança e sonho num mundo totalmente conservador. Mas afinal o que é sonho? De acordo com o dicionario Aurélio, sonho é “a associação de imagens, frequentemente desconexas ou confusas que se formam no espirito da pessoa enquanto dorme. Fig. Ilusão, fantasia, desvaneio, utopia.” Com um significado desses, diria que sonho é algo impossivel e irreal... Por isso prefiro ficar com o conceito dos poetas, são eles que entendem a alma humana e Clarice Lispector fala dessa forma: “Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.". Ou seja, Carpe Diem.
Procurei buscar esses dois significados para poder comparar como é viver num mundo conservador e num mundo libertador. Sociedade dos Poetas Mortos dá muita enfase à poesia, que hoje em dia ou já foi esquecida ou estão relatadas em alguns livros de literatura para serem decoradas e não vividas. A poesia tem o poder de mexer com com as pessoas, todo mundo é capaz de escrever um belo poema. É só fechar os olhos e sonhar, assim como fez Keating com o Todd Anderson, que sempre teve medo de falar em público.
E foi Keating, com seu jeito diferente de dar aulas, que ensinou àqueles jovens a lição mais importante da vida deles: carpe diem, ou seja aproveite o dia, ou melhor, viva seu sonho hoje. Um choque talvez para aqueles garotos que estavam acostumados a serem fantoches ou robôs programados para viver a vida dos pais e dos diretores que provavelmente não viveram seus sonhos.
O cenário escolhido não poderia ter sido melhor: uma escola interna exclusiva para homens e que tinha como lema “Tradição, honra, disciplina e excelência”, para que ambiente mais ditador e conservador que esse? Nessa escola os meninos viviam para poder ir a uma boa universidade, assim poderiam garantir seu futuro e seriam grandes médicos, engenheiros, advogados... Mas será mesmo? Até que para uma grande universidade eles iriam e chegariam muito longe, mas na escola da vida eles não sairiam do primário...
Esse foi o cenário escolhido, mas a nossa vida também poderia ser escolhida, não estudamos em internatos, mas eu diria que a gente vive num regime semi-aberto. As crianças cada vez mais cedo entram na escola, perdem sua infância e antes mesmo de aprender a brincar de bonecas e carros elas ja sabem escrever seu nome e ate já sabem falar car... o tempo passa e vem a adolescência, manhã inteira na escola, tarde com reforço ou alguma outra atividade escolhida pelos pais é claro, castigos, tarefas, provas... e aí vem a juventude, hora da responsabilidade, de escolher o que vai fazer com seu futuro, se vai ser um médico respeitado e rico ou um professor que se mata de trabalhar para ganhar pouco... pelo menos é assim que nos é repassado e, se você escolhe seguir o seu sonho, ainda tem que ouvir aquela frase “eu me matei para dar um estudo decente para você, fiz tudo que podia e não podia, me sacrifiquei para garantir seu futuro e agora você vem com essa de sonho, isso ai não da futuro não...”. Pois é. Como ter sonhos numa sociedade assim?
Sociedade dos poetas mortos tenta mostrar como a vida é bonita vista pelos olhos do poeta, como podemos ser mais felizes se corremos atrás dos nossos sonhos. O lema do internato “Tradição, honra, disciplina e excelência” é tudo que um pai busca numa escola para matricular seu filho e também é tudo que uma escola quer para se considerar bem sucedida, porém não é isso que garante uma boa educação, por isso os jovens perdem cada vez mais o interesse e a alegria de estudar, pois passam a ver os estudos como uma necessidade, como uma pressão que impede eles de buscar a diversão. Para um aluno que tá se preparando para o vestibular, ir ao cinema é sinal de vagabundagem. Como podemos ter prazer numa coisa que nos priva do que gostamos de fazer?
Isso foi o que aconteceu com Neil Perry. Ele tinha prazeres, sonhos, vontades dos quais sempre teve que se privar para ser um bom aluno e agradar seu pai. Com o aparecimento do professor Keating ele descobriu a Sociedade dos Poetas Mortos e resolveu reativar essa sociedade, onde ele e seus amigos se reuniam para falar poemas e fazer coisas que estavam interessados. Confesso que usei isso no meu terceiro ano, talvez para fugir um pouco da pressão do vestibular escrevia poemas e expressava neles todos meus sentimentos, pensei ate em escrever um livro rsrsrsrs. Essa fuga da realidade dele e dos outros membros incentivou eles a lutarem pelos seus sonhos. Mas a “Tradição, honra, disciplina e excelência” do seu pai não enxergou isso e Neil Perry enterrou seus sonhos junto com seu corpo... E de quem foi a culpa? O internato não podia perder a sua tradição, então como tudo na vida, escolhe-se o caminho mais fácil, acabou-se culpando o único que foi capaz de querer dar aos jovens uma liberdade de pensamento, culpar aquele que fez o diferente numa sociedade tradicionalista.
Alguns podem ate dizer que o fim é injusto, porém não vejo por esse lado, acho que o fim do filme nada mais é do que o duro retrato da realidade, onde nossos sonhos e vontades são enterrados, e a tradição acaba vencendo.
O filme talvez pecou um pouco por não finalizar o destino de todos, acabamos sem saber como terminaria a historia deles, mas isso torna-se insignificante perto da grandiosidade do filme e talvez o destino final daqueles jovens sejam iguais aos daqueles rostos que aparecem no começo do filme, mas eles vão ter algo diferente... eles conheceram o Carpe diem e por isso talvez possam fazer algo diferente como Keating que, apesar de ter sido expulso da escola, conseguiu mudar a visão e a forma de ensinar de alguns professores.
Não poderia finalizar essa crítica de forma diferente, então escolhi um poema que demostra bem o que um poeta é capaz de fazer em nossas vidas.


Autopsicografia

“ O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”

Fernando Pessoa



28 janeiro, 2012

Perfume de mulher (Elaynne)

“No tango, se você errar, continue dançando”.
É uma frase interessante, principalmente se você analisar o contexto onde ela foi dita pela segunda vez.
A primeira vez que esta frase foi dita, foi no sentido literal mesmo, já que o Coronel Slade (uma interpretação digna de todos os prêmios possíveis de Al Pacino) tirou uma moça para dançar, e ela ficou com medo. Interessante ter sido o Coronel a dizer esta frase. Interessante e contraditório, pois ele não seguia esta filosofia. Pelo menos foi isso que ele mesmo percebeu quando Charlie repetiu esta frase pra ele, naquele instante de tensão no quarto do hotel.
Acredito que foi nesta hora, quando Charlie repetiu esta frase para o Coronel, que ele percebeu o quanto estava errado sobre a decisão que havia tomado de tirar sua vida. Deu tudo errado? A vida ferrou com tudo? Continue dançando, continue vivendo. O Coronel Slade sabia dançar tango muito bem, e deve ter repetido esta frase para muitas pessoas, mas nunca repetiu para si mesmo. No dia em que alguém falou pra ele, ele se tocou.
E como este filme toca a quem assiste, pela forma com que o roteiro expõe as misérias dos personagens! Quantos dilemas são tratados neste filme, de uma forma grosseira, até, já que o Coronel é uma pessoa grosseira, rude. Mas isto não significa que ele seja um mal educado, pelo contrário. Ele tem uma educação impar, e sabe valorizar as coisas boas da vida. Talvez por isto quisesse abreviar a vida, já que não tinha como admirar a beleza das coisas ao seu redor, principalmente a beleza das mulheres a quem ele tanto estimava. Qual a graça de viver sem poder contemplar a beleza da vida?
Só mesmo um jovem simples, de origem humilde, e com alguns dilemas pessoais relevantes, até, poderia devolver ao velho Coronel a alegria de viver, um motivo para continuar dançando. O Coronel se identificou com Charlie, com sua solidão, com seus problemas, e porque não, com sua ousadia? Afinal Charlie não dispensou o emprego, topou a viagem, aceitou demorar mais uns dias, e no fim das contas enfrentou o Coronel com uma arma apontada para ele.
O Coronel viu na possibilidade de ajudar o jovem uma razão a mais para ter esperança. E no fim, provou estar certo, afinal, ele poderia continuar sentindo a melhor sensação que ele poderia sentir, e que ele valorizava tão bem: o perfume de uma mulher. Quantas pessoas precisam conhecer um Charlie. Quantas pessoas precisam de uma experiência tão ou mais forte que a do Coronel, para perceber que, por maiores que sejam os problemas ou as dificuldades, sempre tem algo que vale a pena. As pessoas precisam de um Charlie pra dizer a elas que, se errar, continuem dançando.
Este é um filme que usou um cego para explorar o dilema moral de um jovem que não sabia se traía os colegas para ganhar uma oferta irrecusável ou se mantinha o combinado anteriormente e não entregaria ninguém, sob pena de ser expulso da escola, e usou um jovem estudante de origem humilde pra explorar o problema de um cego que, por conta da cegueira, não acreditava ter razão para viver. É como eu costumo dizer: nada está tão bom que não possa melhorar, nem tão ruim que não possa ficar pior. As coisas melhoraram e pioraram para os dois durante o decorrer da história. Mas um sabia exatamente como ajudar o outro, e assim os dois resolveram os problemas, e a dança da vida continuou para cada um.
Certamente que outros problemas irão surgir na vida de cada um, problemas novos, dilemas novos. Mas a experiência pela qual eles passaram juntos foi marcante em suas vidas. Em uma nova dificuldades, eles saberiam melhor como enfrentar. Caso não pudessem resolver, basta continuar dançando. E é assim que é vida. As coisas boas e as ruins não duram pra sempre. O que fica pra sempre é o efeito, as consequências, de cada uma delas, e estas a gente pode lidar.




23 janeiro, 2012

Sete vidas (Carlos)

É até clichê começar falando do ator, mas não tem como fazer uma crítica desse filme sem falar da atuação de Will Smitt, primeiro porque ele é um dos maiores atores dramáticos da atualidade, um drama com ele é quase garantia de sucesso, ele tem o dom de transformar seus personagens em pessoas reais de forma que nos prende e nos envolve na trama. E com Sete Vidas não foi diferente, muitas vezes sentimos raiva , outras pena, outras alegrias, torcia por ele, sorria com ele, sofria com ele...
Logo no começo do filme a vontade que se tem é de entrar na televisão e dar um murro nele, mandar ele calar a boca e quebrar o telefone, não da para imaginar como um ser humano é capaz de humilhar um cego daquela forma e aí ficamos imaginando quem é esse cara sem coração.
Logo depois começamos a ver que esse cara teve um sofrimento muito grande, perdeu sua esposa num acidente e por isso não via mais nenhum sentido para viver. Mesmo assim isso não explicaria toda a arrogância demonstrada por ele. Mas esse cara começa a mostrar um outro lado ele começa a ajudar as pessoas, a ser solidário, a procurar pessoas que precisam de ajuda e começamos a perceber que seu sofrimento vai alem do acidente, tem mais coisas envolvidas, isso só aumenta a dúvida de quem é esse cara.
A medida que se passam os acontecimentos percebemos o seu interesse, ele realmente não que mais viver, ele não vê motivo para isso, ele não se acha digno, mas por que? Será porque a sua razão de viver morreu? Porém ele começa a achar um outro motivo para viver e ele começa a perceber que pode se apaixonar novamente, amar novamente, mesmo assim percebemos que sua angústia não se acaba, deve ter mais coisas por trás de tudo isso.  Descobrimos que ele mente, ele falsifica e pega a profissão do irmão para se aproximar de certas pessoas.
No fim descobrimos quem é esse cara. Um mentiroso? Um falsificador? Um suicida? Sim ele é tudo isso, porém mais do que isso ele é um sofredor, uma pessoa que sentia amor, um cara carregado pela culpa de ter tirado sete vidas. Mesmo sem querer, num simples descuido, um grave acidente e sete vidas se foram, sete pessoas inocentes e ele no fim teve que se ver vivo e se perguntando por que ele não foi junto, porque ele? Para que sobreviveu? E ele mesmo encontra a resposta, ele viveu para poder salvar mais sete vidas, pode ser apenas dando uma visão ou ate dando o seu coração (literalmente). Ele mentiu por amor, ele deu a vida por amor, ele sofreu por amor e como diz Jesus em Jo 15:13 “ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus irmãos”. Tudo bem que foi por culpa, mas ele foi capaz de reconhecer a culpa e se redimir de uma forma não muito convencional, mas foi a forma que ele encontrou. Muitas pessoas talvez buscassem o dinheiro como forma de se sentir melhor, dando indenizações milionárias, porém ele preferiu dar uma nova oportunidade de vida para sete pessoas boas, de bom coração que com certeza iriam ajudar outras vidas.
Percebe-se então que ele nunca foi uma pessoa cruel a ponto de humilhar um cego, ele apenas queria saber se ele era digno de receber sua visão.
Se isso tudo que ele fez foi certo ou errado, não sou ninguém para julgar, mas foi a forma que ele encontrou de viver novamente e viver em paz.