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Começar falando de Robin Williams pode até ser considerado um clichê, afinal todo papel que ele faz é um sucesso e, com Jonh Keating, não poderia ter sido diferente. Um professor de literatura com uma tarefa muito dificil, talvez até impossível... Espalhar esperança e sonho num mundo totalmente conservador. Mas afinal o que é sonho? De acordo com o dicionario Aurélio, sonho é “a associação de imagens, frequentemente desconexas ou confusas que se formam no espirito da pessoa enquanto dorme. Fig. Ilusão, fantasia, desvaneio, utopia.” Com um significado desses, diria que sonho é algo impossivel e irreal... Por isso prefiro ficar com o conceito dos poetas, são eles que entendem a alma humana e Clarice Lispector fala dessa forma: “Sonhe com o que você quiser. Vá para onde você queira ir. Seja o que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos. Tenha felicidade bastante para fazê-la doce. Dificuldades para fazê-la forte. Tristeza para fazê-la humana. E esperança suficiente para fazê-la feliz.". Ou seja, Carpe Diem.
Procurei buscar esses dois significados para poder comparar como é viver num mundo conservador e num mundo libertador. Sociedade dos Poetas Mortos dá muita enfase à poesia, que hoje em dia ou já foi esquecida ou estão relatadas em alguns livros de literatura para serem decoradas e não vividas. A poesia tem o poder de mexer com com as pessoas, todo mundo é capaz de escrever um belo poema. É só fechar os olhos e sonhar, assim como fez Keating com o Todd Anderson, que sempre teve medo de falar em público.
E foi Keating, com seu jeito diferente de dar aulas, que ensinou àqueles jovens a lição mais importante da vida deles: carpe diem, ou seja aproveite o dia, ou melhor, viva seu sonho hoje. Um choque talvez para aqueles garotos que estavam acostumados a serem fantoches ou robôs programados para viver a vida dos pais e dos diretores que provavelmente não viveram seus sonhos.
O cenário escolhido não poderia ter sido melhor: uma escola interna exclusiva para homens e que tinha como lema “Tradição, honra, disciplina e excelência”, para que ambiente mais ditador e conservador que esse? Nessa escola os meninos viviam para poder ir a uma boa universidade, assim poderiam garantir seu futuro e seriam grandes médicos, engenheiros, advogados... Mas será mesmo? Até que para uma grande universidade eles iriam e chegariam muito longe, mas na escola da vida eles não sairiam do primário...
Esse foi o cenário escolhido, mas a nossa vida também poderia ser escolhida, não estudamos em internatos, mas eu diria que a gente vive num regime semi-aberto. As crianças cada vez mais cedo entram na escola, perdem sua infância e antes mesmo de aprender a brincar de bonecas e carros elas ja sabem escrever seu nome e ate já sabem falar car... o tempo passa e vem a adolescência, manhã inteira na escola, tarde com reforço ou alguma outra atividade escolhida pelos pais é claro, castigos, tarefas, provas... e aí vem a juventude, hora da responsabilidade, de escolher o que vai fazer com seu futuro, se vai ser um médico respeitado e rico ou um professor que se mata de trabalhar para ganhar pouco... pelo menos é assim que nos é repassado e, se você escolhe seguir o seu sonho, ainda tem que ouvir aquela frase “eu me matei para dar um estudo decente para você, fiz tudo que podia e não podia, me sacrifiquei para garantir seu futuro e agora você vem com essa de sonho, isso ai não da futuro não...”. Pois é. Como ter sonhos numa sociedade assim?
Sociedade dos poetas mortos tenta mostrar como a vida é bonita vista pelos olhos do poeta, como podemos ser mais felizes se corremos atrás dos nossos sonhos. O lema do internato “Tradição, honra, disciplina e excelência” é tudo que um pai busca numa escola para matricular seu filho e também é tudo que uma escola quer para se considerar bem sucedida, porém não é isso que garante uma boa educação, por isso os jovens perdem cada vez mais o interesse e a alegria de estudar, pois passam a ver os estudos como uma necessidade, como uma pressão que impede eles de buscar a diversão. Para um aluno que tá se preparando para o vestibular, ir ao cinema é sinal de vagabundagem. Como podemos ter prazer numa coisa que nos priva do que gostamos de fazer?
Isso foi o que aconteceu com Neil Perry. Ele tinha prazeres, sonhos, vontades dos quais sempre teve que se privar para ser um bom aluno e agradar seu pai. Com o aparecimento do professor Keating ele descobriu a Sociedade dos Poetas Mortos e resolveu reativar essa sociedade, onde ele e seus amigos se reuniam para falar poemas e fazer coisas que estavam interessados. Confesso que usei isso no meu terceiro ano, talvez para fugir um pouco da pressão do vestibular escrevia poemas e expressava neles todos meus sentimentos, pensei ate em escrever um livro rsrsrsrs. Essa fuga da realidade dele e dos outros membros incentivou eles a lutarem pelos seus sonhos. Mas a “Tradição, honra, disciplina e excelência” do seu pai não enxergou isso e Neil Perry enterrou seus sonhos junto com seu corpo... E de quem foi a culpa? O internato não podia perder a sua tradição, então como tudo na vida, escolhe-se o caminho mais fácil, acabou-se culpando o único que foi capaz de querer dar aos jovens uma liberdade de pensamento, culpar aquele que fez o diferente numa sociedade tradicionalista.
Alguns podem ate dizer que o fim é injusto, porém não vejo por esse lado, acho que o fim do filme nada mais é do que o duro retrato da realidade, onde nossos sonhos e vontades são enterrados, e a tradição acaba vencendo.
O filme talvez pecou um pouco por não finalizar o destino de todos, acabamos sem saber como terminaria a historia deles, mas isso torna-se insignificante perto da grandiosidade do filme e talvez o destino final daqueles jovens sejam iguais aos daqueles rostos que aparecem no começo do filme, mas eles vão ter algo diferente... eles conheceram o Carpe diem e por isso talvez possam fazer algo diferente como Keating que, apesar de ter sido expulso da escola, conseguiu mudar a visão e a forma de ensinar de alguns professores.
Não poderia finalizar essa crítica de forma diferente, então escolhi um poema que demostra bem o que um poeta é capaz de fazer em nossas vidas.
Autopsicografia
“ O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.”
Fernando Pessoa