Desta forma, ele, apesar de ser um ladrão, falsário, estelionatário, não se torna em momento algum o vilão da história. Ninguém que assista a este filme vai torcer contra Frank Abagnale. Ninguém quer vê-lo preso. Queremos vê-lo, sim, desafiando o sistema, burlando as regras. Queremos vê-lo fazendo o que nós, muitas vezes, temos vontade de fazer, mas não temos a devida coragem, porque temos medo das consequências. Digamos que a nossa covardia e acomodação são os motivos que nos levam a torcer a favor de Frank, a vibrar e se admirar em cada empreitada nova onde ele obtém sucesso.
E como ele teve sucesso!!! Simplesmente porque ele não teve medo. Ele ousou, e numa velocidade jamais vista. Não é todo mundo que tem no currículo, aos 19 anos, milhões de dólares em cheques falsificados, um curso de medicina em Harvard e uma aprovação no exame de ordem para exercer advocacia. Além, claro, da experiência como co-piloto de uma das maiores companhias de aviação do mundo. Não é todo mundo, mesmo. E tirando a aprovação no exame de ordem, que ele conseguiu por méritos próprios, o resto ele conseguiu burlando as regras, criando novas soluções, por assim dizer.
Frank Abagnale é, como costumamos dizer, o cara. Depois de assistir a este filme, aquela máxima de que “o crime não compensa” perde um pouco o valor. Afinal, a sua vida de crimes lhe rendeu frutos excelentes e invejáveis durante a época em que roubava. Tanto para ele quanto para sua família. A família que era sua principal meta quando começou esta vida. Pode-se dizer que ele tinha um motivo nobre: restaurar o padrão que sua família tinha anteriormente, e o principal, re-unir sua família, seu pai e sua mãe. Uma parte do objetivo ele até teria conseguido, se seu pai não tivesse rejeitado o Cadilac. Mas, se não foi, não era pra ser. A vida lhe levou por outros caminhos, que ele nem imaginava. Duvido que em algum momento ele sequer tenha cogitado a possibilidade de trabalhar no FBI, ajudando a prender criminosos como ele.
E não é que foi exatamente isso o que aconteceu?? De certa forma, ele passou a ser pago por quem ele mais roubou, o Estado. Aquele que tanto o perseguiu agora seria seu patrão, seu chefe. E uma pessoa como Frank se submete a alguém? É, se submete sim. Chega uma hora na vida em que tudo o que a pessoa quer é fugir de uma vida de agitação e passar a viver uma vida comum. Mesmo a mais diferente e agitada das pessoas passa por este momento. Chegou a vez de Frank se adaptar ao sistema.
E tudo isso se torna mais surpreendente ainda sabendo se tratar de uma história real. Aconteceu mesmo. Se fosse apenas mais um filme sobre ladrões, temos muitos onde a turma de roubos incríveis se dá bem. Esta história é diferente. São personagens da vida real. A vida real proporciona histórias incríveis como esta o tempo todo. Nem todas são trazidas para as telas, e nem com tanta perfeição como foi Prenda-me se for capaz. É um filme incrível!! É uma história inacreditável, mas é real.
E no fim, ele foi preso. Ficou sem saída. O trabalho de Carl foi feito. Que chato!!! Que sem graça. Ou não? Foi graças a isso que ele conseguiu fazer um trabalho “normal”, aceito pelas pessoas. Não sei se era isso mesmo que ele queria, acredito que não. Mas era preciso. Não dava pra passar a vida inteira fugindo e falsificando. Dá trabalho. Chega uma hora que a pessoa quer descansar, sair do risco e ter algo mais seguro.
O mais importante é que, mesmo sem ter a mesma emoção e adrenalina de antes, ele poderia exercer seus conhecimentos e suas habilidades. Mesmo adaptado ao sistema, sua inteligência diferenciada não se perderia, ao contrário, seria bem aproveitada. Os seus crimes foram o motivo de sua contratação. E alguém tem dúvida de que ele deve ter se tornado um dos melhores na sua área de atuação no FBI? Não tenho dúvidas de que ele foi brilhante no trabalho assim como foi brilhante roubando. Afinal, pessoas diferenciadas permanecem assim onde quer que estejam.