A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

17 março, 2012

À espera de um milagre (Carlos)

Esse é um filme que sempre tive medo de comentar, por ser um dos mais complexos que acho. É um filme que posso ter assistido no mínimo umas sete vezes, mas toda vez que vejo me impressiono mais. Falar de milagre é sempre muito difícil, afinal o que é milagre? Para mim milagre é tudo aquilo que nos faz feliz... Para um casal, por exemplo, o nascimento do filho é um milagre; para um doente é a cura; para quem sofreu um acidente sair ileso é um milagre; para um desempregado um trabalho; para um condenado a liberdade... E para Deus com certeza cada um de nós é um milagre, nossa vida é um milagre, dessa forma qual o direito que temos de destruir um milagre de Deus?
Stephen King , escritor do livro o qual Frank Darabont adaptou para filme, aborda esse assunto de uma forma bem especial e sutil. Ele consegue falar de vários temas que rodeiam o milagre. O primeiro deles é a pena de morte e, como falei anteriormente, se somos milagres de Deus ninguém, por motivo algum, tem direito de tirar isso. Pena de morte sempre é um tema muito polemico devido a natureza vingativa dos homens. É muito difícil para nós perdoar alguns atos. Porém em Mt 5, 38-39 Jesus diz " Tendes ouvido o que foi dito: Olho por olho, dente por dente. Eu porem vos digo: não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra" E Ele não só falou, Ele fez muitos atos que mostraram que Ele era capaz disso.
E nós, será que somos capazes de fazer tanto? Por que então ainda se discute a pena de morte? Por que não seguir esse belo ensinamento?... Infelizmente muitas vezes nosso instinto de vingança e justiça fala mais alto. No caso do filme esse tema foi mostrado de uma forma bem diferente do que estamos acostumados a ver, em vários momentos chegávamos a torcer pelos condenados, afinal eles conseguiam mostrar uma gentileza maior que a do soldado Percy. Delacroix nos fazia rir com o seu ratinho Mr. Jingles. Não era necessário para nós saber que crime aquelas pessoas tinham cometido, o momento que eles viviam era outro. Talvez dessa forma ficou mais fácil para nós vê-los como "heróis" e assim nos mostrar que as pessoas são capazes de se arrepender e mudar, e assim nos perguntar: que justiça é essa que não oferece uma segunda chance? Até onde somos capazes de julgar a ação das pessoas?
Temos naquele corredor Jonh Coffey, um homem que pela aparência todos julgariam como culpado, um homem alto, forte e negro... foi com essa aparência qu ele foi condenado, mas ao passar do filme, suas ações nos fazem pensar se ele realmente foi capaz de estuprar e matar 2 crianças. Um homem que chora, que tem medo do escuro, que é gentil, que ajuda os outros... esse é o dilema de Paul e essa duvida perdura até a hora que ele descobre a inocência de John e aí vem a outra duvida dele: cumprir ou não com o seu dever? E alem disso tudo Jonh ainda o curou e salvou também a mulher de seu amigo. Paul tinha uma divida com ele.
E então chegamos a mais uma questão da pena de morte, como iremos saber se estamos condenando pessoas inocentes? Pessoas que como Jonh só faziam o bem. Não temos essa capacidade de julgar os outros. Paul, na sua dúvida, chega a perguntar para sua mulher: "o que irei falar para Deus quando encontrá-Lo no julgamento final, que matei um de seus milagres?" Esse deveria ser o pensamento de todos antes de tirar a vida de alguém, todos deveríamos ver os outros como milagres de Deus independente de qualquer coisa.
Outro tema que é abordado é a questão do medo no personagem de Jonh. Podemos ver isso bem presente, afinal um homem alto e forte como ele iria te medo de quê? E pelo contrario ele parecia uma criança indefesa com o medo de ficar só no escuro. O medo também está presente no soldado Percy, que se sentia forte e arrogante com sua farda, mas bastou uma ameaça maior de um prisioneiro que veio à tona a sua fraqueza e ele chega ao ponto de mijar nas calças.
Vemos ainda o medo da morte exposto no rosto daqueles prisioneiro condenados e até o medo de não morrer expressado por Paul no final do filme. O medo da doença com Sam quando recebeu o diagnostico que sua mulher tinha um tumor no cérebro, enfim o filme mostra que não importa o nosso tamanho, o nosso distintivo, a nossa arrogância, a nossa bondade... todos sempre temos medo de algo e que sempre nas dificuldades da vida ela acaba aparecendo, cabe a nós mostrarmos a força nessa hora.
O filme aborda também a questão da imortalidade, uma busca insensata do ser humano. Cristo já prometia a vida eterna para quem o seguisse e isso foi e ainda é o que move muitos cristãos, acontece que o homem como sempre desvia o real sentido de Deus e busca desesperadamente meios de prolongar a vida, não envelhecer nunca, enfim, busca a vida eterna aqui na terra. Paul ganhou esse “presente” de Jonh e viveu mais que o normal, mas Paul acaba percebendo que isso não foi bem um “presente” e passa até a considerar como castigo de Deus por ter condenado à morte um de seus milagres, pois ele acaba vendo todas as pessoas que ama morrer e os novos amigos que faz também. O único que o acompanha é Mr. Jingles, que também recebeu esse dom de Jonh, mas que por ser um rato é provável que morra antes dele também. Então qual seria a vantagem de se buscar essa imortalidade aqui na terra?
Não se poderia falar de imortalidade sem se falar de morte e como o filme se passa num presídio onde vivem prisioneiros condenados à morte esse tema esteve bastante presente e com cenas até bem fortes, como foi a morte brutal de Delacroix, onde Percy não molha a esponja, ficamos durante uns 3 minutos angustiados desejando como expectador que aquele momento acabe logo. Paul e todos os outros soldados do presídio (menos Percy), tinham uma sensibilidade muito grande com aqueles condenados pois queriam dar pelo menos um pouco de otimismo para aqueles que não tinham mais nenhuma esperança.
Eles chamavam o corredor que dá acesso a cadeira elétrica de “milha verde” devido a sua cor e sempre que um dos prisioneiros eram condenados eles proporcionavam o seu “grande momento” como a apresentação de Mr Jingles e uma das cenas mais emocionantes que é o filme assistido por Jonh, seu primeiro filme, no qual ele chora emocionado e nos mostra que a sensibilidade não é sinal de fraqueza e sim de grandeza. Como Paul disse “todos temos nossa milha verde” então devemos sempre buscar nossos sonhos por mais simples que possam parecer, pois são eles que nos dão otimismo e esperança para seguir em frente.
Por fim termino como comecei, falando de milagre. Jonh tinha um dom extraordinário, ele era capaz de curar as pessoas, de tirar o que elas tinham de ruim e colocar para fora... E foi por causa desse dom que ele foi parar na prisão e foi com ele também que ele conseguiu a admiração de todos ali. Mas por que o autor escolheu um negro, simples e analfabeto e escolheu também um corredor da morte o lugar para ele mostrar seus dons? Talvez a mensagem seja simples: o milagre pode acontecer em qualquer lugar, através de pessoas que não esperamos e nas situações menos prováveis, basta a gente ter a sensibilidade de vê-lo.


2 comentários:

  1. isso mesmo.por isso q sempre fui totalmente contra a pena de morte..axoq DEUS q tem q tirar a nossa vida não uma cadeira eletrica... pessoas inocentes podem morrer,sem nunca conseguir provar sua inocencia.milena florania rn

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    1. Boa tarde, Milena

      Obrigado por acessar o blog, e comentar.
      Essa discussão sobre a pena de morte vai longe, e não foi nossa intenção aqui neste comentário sobre o filme finalizar, apenas dar nossa opinião sobre o intrigante assunto, que é parecida com a sua.
      Acredito que muitas pessoas que hoje são a favor da pena de morte, se não mudassem de ideia, pelo menos pensariam duas vezes sobre o tema após assistir este filme. Ele nos leva a essa reflexão. Por isso é um filme marcante, e por isso está em nosso blog.
      Espero que você continue acessando nosso blog, e comente sempre que puder.
      Abraços,
      Carlos Henrique

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