A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

14 maio, 2012

Noivo neurótico, noiva nervosa (Elaynne)


O bom de se assistir a um filme sabendo que é pra fazer uma crítica a respeito, é que você já fica mais atento aos detalhes, às cenas ou falas que chamam a atenção, e aos atores, pra poder ter o que falar. Mas confesso que, quando terminei de assistir a este filme, fiquei meio sem saber o que falar dele.
É mais que uma comédia romântica. É um filme cult. Com um humor inteligente e sarcástico. Assim como seu personagem principal, Alvy. Uma pessoa do meio artístico, do cinema e televisão, mas que se apresenta como alguém que não aprova o que é oferecido aos expectadores em seu tempo. É muito crítico, e suas críticas não são infundadas, pelo contrário. Ele critica com inteligência e sabe identificar os pontos fracos de seus "colegas" de profissão. Infelizmente, ele se sente obrigado a conviver com tudo o que ele desaprova, para se adaptar ao sistema.
Se na vida profissional ele consegue se adaptar ao sistema permanecendo em silêncio, não manifestando abertamente suas opiniões, na vida amorosa Alvy segue um rumo totalmente diferente. Não sabe ficar calado. Não sabe aceitar os defeitos de suas companheiras. É exatamente nesta área da vida que sua crítica feroz mais o prejudica. E nem os dezesseis anos de terapias foram capazes de mudar sua personalidade exigente.
Ora, um homem que já foi casado duas vezes e deixou um terceiro relacionamento se perder, deve ter algo errado. E, o que seria esse algo errado com Alvy? Sua personalidade insegura não combina com ser exigente dos outros. Ao mesmo tempo em que ele não tem certeza de muitas coisas a respeito de si mesmo, ele quer ter certeza absoluta em seus relacionamentos, e quer ainda que as pessoas com quem se relaciona tenham certeza a respeito dele mesmo. Assim não dá.
E pra piorar as coisas, acho que todos os anos de terapia acabaram lhe fazendo mais mal que bem. Afinal de contas, ele não fala coisa com coisa, e fala infinitamente, sem fazer pausas, sem tratar de um mesmo assunto por mais de cinco minutos. É uma pessoa complicada de se conversar. Talvez por ser tão inteligente, ele seja assim tão difícil. Quando se pensa que está falando de um assunto, de repente ele muda e passa a falar de outra coisa, e permanece assim o tempo todo.
De sua segunda esposa não dá pra falar muita coisa. Não tinha muito pra dar certo mesmo. Mas em relação à sua primeira esposa e à Annie, eram mulheres aparentemente perfeitas para ele, já que aceitavam suas manias e defeitos, se divertiam juntos e tinham inclusive muitos gostos e interesses em comum. Com a primeira esposa, ele quis prendê-la. Pensou mais em si mesmo que no casal, o que levou fatalmente ao fim do relacionamento.
Com Annie, não dava pra repetir o mesmo erro do primeiro casamento. E ele não repetiu. Relutou, inclusive, em receber Annie em sua casa, com medo de que parecesse um casamento e caísse na rotina. Ele tentou fazer as coisas diferentes. Recomendou até mesmo que Annie visitasse uma terapeuta, assim como ele fazia, pra ajudá-la com seus problemas pessoais.
E foi por tentar fazer diferente e, principalmente, por levar Annie a um terapeuta, que Alvy perdeu seu novo amor. Talvez seu único verdadeiro amor. Além dos defeitos de Alvy, foi a terapia que fez com que Annie mudasse um pouco seu modo de pensar e buscasse se sentir mais livre, mais disposta a correr atrás de seus sonhos pessoais. Sonhos estes que começaram a tomar forma com ajuda do próprio Alvy, que a incentivou a cantar em bares.
Ou seja, provavelmente no relacionamento em que mais acertou, Alvy perdeu a mulher que mais amou. É uma falta de sorte enorme. Mas de certa forma Alvy já estava preparado para aquela separação, considerando que já tinha passado por outras duas. Só que, mesmo preparado, ele não queria que acontecesse. Se esforçou para evitar a separação de Annie, e se esforçou também para conquistá-la de volta (do seu jeito, eu sei, mas se esforçou).
Mas Annie, apesar de todo o esforço de Alvy e do amor que sentia por ele, resolveu tocar sua própria vida. Talvez, se Alvy estivesse disposto a deixar Nova York, eles não teriam se separado. Ou talvez Alvy não ia conseguir se adaptar à nova vida social de Annie e terminaria o relacionamento mais tarde, não dá pra saber.
O que eu sei é que, num relacionamento, não dá pra pensar o tempo todo em você mesmo. Claro que você continua com seu amor próprio, mas tudo o que você vive e pensa em viver daí pra frente, tem que ser em conjunto. Os objetivos pessoais devem continuar a existir, mas é melhor que sejam compartilhados com seu companheiro, para que os dois se ajudem a atingirem seus objetivos pessoais e atinjam também seus objetivos enquanto casal.
Relacionamentos são complicados. Nem todas as pessoas são neuróticas como Alvy, ou nervosas como Annie. Mas todas têm seus defeitos, e se não se aprende a conviver com estes defeitos, aceitando que você também tem seus próprios defeitos e é uma pessoa difícil de se conviver, se isso não acontecer, o outro sempre será o culpado por tudo o que vier a dar errado. E num relacionamento, dificilmente há apenas um culpado quando algo não dá certo, a culpa é dos dois, assim como tudo o mais que um relacionamento envolve.
Finalizando, é um bom filme, mas não recomendo para todo mundo. Apenas para as pessoas que tenham o humor crítico e sarcástico o suficiente para compreender suas piadas inteligentes.
Ah, e o cara no telefone é realmente o Jeff Goldblum, que fez "A mosca".


Nenhum comentário:

Postar um comentário