A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

30 março, 2013

Pulp Fiction - Tempo de Violência (Elaynne)


Até hoje eu conhecia Quentin Tarantino por filmes como Kill Bill e Sin City (onde dirigiu algumas
cenas). Filmes violentos, brutais, e que exageram nas cenas de lutas, principalmente quando há sangue envolvido. Tarantino demonstra nestes dois filmes que valoriza o exagero, de forma a reduzir o impacto da violência nas cenas. Todo aquele sangue que jorra de partes do corpo cortadas desfazem a "realidade" da coisa, sem no entanto diminuir o prestígio das cenas.
Então, com a experiência destes filmes que citei, sempre quis assistir Pulp Fiction. É um filme que estaria na minha lista, com certeza, mais por curiosidade que por qualquer outra coisa. Um filme de Quentin Tarantino com "violência" no nome deve ser o mais sanguinário de todos, era o que eu acreditava. E, bem... não é bem assim. Nada daqueles rios de sangue.
Claro que este detalhe não diminui a qualidade do filme em nada. É um filme muito bom, não a toa ganhou um Oscar pelo roteiro. A forma como a história é desenvolvida e narrada é diferente. O filme começa em um determinado dia, avança, depois retorna do ponto onde parou, só que por outro ponto de vista. É o que faz o roteiro ser diferente e realmente original. Não dá nem pra dizer que há um personagem principal na história. Isto depende muito de qual parte do filme você assiste.
Se pega o início do filme, dá pra dizer que o personagem principal é Vincent (John Travolta), junto com Mia (Uma Thurman). Se assiste o meio do filme, o personagem mais relevante é o boxeador Butch (Bruce Willis). Mais à frente a história valoriza o personagem Jules (Samuel L. Jackson). E cada parte forma uma história de certa forma interdependentes. Daria pra fazer três filmes diferentes de cada personagem, ou mais filmes ainda, dependendo de qual personagem escolher. E este é um dos motivos pelo qual este filme faz tanto sucesso. 
Um dos fatos que mais me chamou a atenção neste filme é a diferença de personalidade entre os dois assassinos, Vincent e Jules. Em alguns instantes parece até que eles vão se matar, ou iniciar um tiroteio, e por discussões banais, por teimosia dos dois. São diferentes, têm pontos de vista diferentes sobre a vida que levam, mas acima de tudo são parceiros. Com todas as brigas e discussões, eles confiam um no outro. Sabem que podem contar um com o outro quando for preciso, mesmo que não concordem com o pensamento do outro. Isto se chama confiança, qualidade difícil de se encontrar, mas que pode existir até mesmo entre criminosos.
E o que dizer de Jules? O cara é uma figura! Como pode um assassino viver citando a Bíblia, mesmo que sempre o mesmo trecho? Acontece que ele é um assassino que tem fé, mais uma qualidade rara de se ver, mesmo entre pessoas "normais". Um cara que convive com a morte quase que diariamente, de repente se dá conta de que a vida pode ter algo mais a oferecer a ele. E que ele pode ter algo mais à oferecer à vida dele e das pessoas. A partir daí ele tenta compreender realmente o texto bíblico que ele já tinha decorado:
"O caminho do homem justo é rodeado por todos os lados pelas desigualdades do egoísmo e da tirania dos homens maus. Bem-aventurado aquele que, em nome da caridade e da boa vontade, pastoreia os fracos pelo vale das trevas, pois ele é verdadeiramente o guardião do seu irmão e o descobridor das crianças perdidas. E derrubarei sobre ti, com grande vingança e furiosa raiva, aqueles que tentam envenenar e destruir meus irmãos. E você saberá que o meu nome é Senhor quando eu derramar minha vingança sobre você.
Pra dizer a verdade, o texto de Ezequiel 25:17 é apenas a parte sublinhada. O início foi criado por Tarantino ou por Samuel L. Jackson, vai saber. O importante é que, de tanto repetir este texto, Jules percebeu que tudo o que dizia fazia algum sentido. Só faltava descobrir que sentido era esse. E, se é preciso um milagre para um criminoso mudar de vida, este milagre aconteceu, pelo menos no entendimento de Jules. 
E milagres são assim. Quem os presencia sente algo mudar dentro de si. Pode ser a pior das pessoas, ou aquela que acredita ser a melhor. Aquele que acredita estar vivo ou saudável por um milagre não quer guardar isto para si. Quer compartilhar, mostrar ao mundo que ter fé vale a pena. Eu falo até mesmo por mim. Vivi um milagre e, por isso, não espero mais por outro. Espero, sim, poder ajudar as pessoas a terem fé suficiente para viverem seu próprio milagre, ou a terem seus olhos abertos para que percebam que o milagre que elas esperam aconteceu. Só falta crer, ver e aceitar.

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