A ideia desse blog começou com 0 livro "O Clube do Filme", de David Gilmour, onde um rapaz desinteressado da escola é convidado pelo pai (crítico de cinema) a abandonar os estudos, desde que os dois assistissem juntos a pelo menos três filmes por semana. Minha esposa (na época namorada) Elaynne me presenteou com este livro, e decidimos fazer algo parecido: assistir a um filme por semana em casa.
Fizemos uma lista inicial de 36 filmes, sendo 18 escolhidos por mim e 18 por ela. Sorteamos um filme para assistir e já indicamos qual será o seu substituto na lista. Ou seja, isso não vai acabar nunca. Eu tomei a iniciativa de comentar os dois primeiros filmes que assistimos, daí criamos o hábito de comentar cada filme que assistimos, sendo que os meus filmes são comentados pela Elaynne e os dela, por mim.
Os comentários apresentam muitos spoillers. Por isso, se você gosta de surpresas, não vai gostar de ler nossos comentários. Se pra você tanto faz, ou se já assistiu aos filmes, aposto que vai se interessar em nossos comentários, mesmo que não concorde com todos.
Espero que curtam nosso interesse por cinema. Se gostou do blog, nos ajude a divulgar.

Carlos Henrique

04 março, 2013

Refém do Silêncio (Elaynne)


Pra um filme que entrou na lista por engano, até que foi um engano que valeu a pena.
A forma como o filme se desenvolve no início, com várias histórias aparentemente separadas e sem ligação alguma, nos deixa intrigados. Nós nos perguntamos como aquele assalto anos atrás, aquela garota com problemas mentais e os assassinatos podem ter alguma ligação. E, com o desenrolar da história, vemos a ligação dos fatos.
Dizem que nada acontece por acaso. Esta frase se aplica ao fato de o Dr. Conrad ter sido escolhido pelo seu amigo para tratar da jovem Elisabeth Burrows. Poderíamos acreditar que ele foi escolhido apenas pelo fato de ser um excelente psiquiatra, referência em sua área, um dos melhores, pra falar a verdade. E este foi mesmo um dos motivos. Mas havia um motivo a mais pro Dr. Louis ter indicado o Dr. Conrad: para salvar sua namorada, que estava refém dos assaltantes.
Em seu primeiro encontro com Elisabeth, parece que o Dr. Conrad não teria muito sucesso. No mínimo, ele sabia que aquele seria um dos casos mais difíceis que ele havia enfrentado, e precisaria de muito tempo para descobrir qual o real problema de Elizabeth, e mais tempo ainda para poder ajuda-la. Ele só não imaginava que não teria esse tempo e que, no dia seguinte, sua vida mudaria e ele teria que trabalhar como nunca para solucionar aquele caso.
Eu não queria estar na pele do Dr. Conrad. Apesar de ele ser um médico excelente, a pressão que ele sofreu para solucionar aquele caso no tempo exigido pelos assaltantes poderia tirar toda a sua concentração e atrapalhar seu planejamento. Só que, quando se está com a família em perigo, ou quando somos expostos a situações de pressão extrema, geralmente conseguimos extrair o nosso melhor, conseguimos fazer coisas que jamais imaginávamos possíveis. Foi o que aconteceu com o Dr. Conrad.
E sobre Elisabeth? Uma garota que, no primeiro contato, faz de tudo para que o médico psiquiatra desista, para que ele dê outro diagnóstico diferente dos que ela já havia recebido, e desse a oportunidade de ela fugir mais uma vez, se esconder e continuar sua vida de fuga dos assaltantes. Sorte dela que se seu plano não deu certo, e o Dr. Conrad não desistiu.
E aí percebemos que, por trás de um problema psicológico, pelo menos da maioria deles, há um fato, um trauma, um acontecimento forte em algum momento da vida, que gerou o problema. E o que muitos médicos fizeram por muito tempo, e alguns ainda fazem, é atacar apenas os efeitos do trauma, não a causa. E assim, uma pessoa que, aparentemente possui problemas psicológicos, acaba tendo outros problemas do tipo, e até problemas físicos, de dependência de drogas farmacêuticas e tratamentos desumanos, mas que nunca farão esta pessoa ficar curada.
O Dr. Conrad conseguiu, no fim das contas, curar o problema de Elisabeth que, desde o início, ele acreditava não ser nenhum. Soube de imediato que ela conseguia simular muito bem, só não sabia o motivo. Mas graças à "ajuda" dos assaltantes, ele soube ir atrás do problema original, do trauma anterior que fez com que Elizabeth se tornasse a pessoa que era. Ele não foi atrás do comum, do que os outros médicos que conheceram Elizabeth fizeram. Ele foi além.
Ele teve que contar a verdade para poder conseguir a ajuda de Elizabeth. Foi preciso deixar bem claro para ela qual a situação, como sua filha havia sido feita refém, e que só com a ajuda de Elizabeth, ele conseguiria salva-la. E foi assim, com sinceridade e franqueza que ele conseguiu se ajudar, ajudando Elizabeth. Claro que foi preciso mudar os planos no meio do caminho, se impor em um certo momento. Encarar seu próprio trauma atual, e levar Elizabeth a encarar seu próprio trauma. 
Foi levando Elisabeth de volta ao passado que ele conseguiu garantir a ela um futuro. A ela e a sua família. Muitas vezes precisamos fazer isso. Se não superarmos o passado, ele nos atormenta e nos impede de viver o presente e ver o futuro. É preciso coragem para superar os traumas. Às vezes você consegue isso sozinho. Às vezes, contar com a ajuda de alguém, e ver a possibilidade de ajudar os outros, é um meio de conseguir esta coragem. Superar medos e traumas do passado pode não apagar o que aconteceu, mas pode garantir que os fantasmas não nos assombrem por toda a vida. Tenho certeza de que Elizabeth entendeu isto. 


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